Disputa por rádio comunitária pode ter fundo político
25 de janeiro de 2019Um conflito instalou-se na Rádio Comunitária de Catandica, em Manica, província de Moçambique. A Associação Cultural Factos de Barué, que é responsável pela emissora, convocou uma assembleia geral em 19 de janeiro para eleger um novo corpo diretivo. O problema surgiu pois a convocação não teve o consentimento da atual direção. Na altura, foi eleito como novo coordenador Geraldo Sextafeira, funcionário do Conselho Municipal.
Segundo Joaquim Meque, coordenador cessante, a direção foi chamada de surpresa e obrigada a prestar contas imediatamente, o que viola os estatutos da rádio comunitária. Meque corre o risco de ser destituído do cargo com base em uma decisão do conselho da direção da Associação Cultural Factos de Barué. Ele conta que foi surpreendido com o anúncio de que tal instituição queria eleger um novo coordenador.
"Eu disse que não reconheço [...] esta sessão de eleição estão a fazer desde quando? Eu disse que isso não aceito e também nenhum bem vou entregar porque eu não vos conheço. Pois nenhum dia esse conselho de direção visitou a rádio. A associação ajuda e apoia a rádio em alguma coisa ou em projectos" disse.
Novo coordenador
Geraldo Sextafeira, presidente da Associação Factos Cultural de Barué, foi eleito coordenador na assembleia de 19 de janeiro. Ele é funcionário do Conselho Municipal local, afecto à residência do edil, ocupando-se em trabalhos domésticos. Sextafeira afirmou que vai usar todos meios à sua disposição para pressionar a atual direcção a ceder as funções.
"Nós tínhamos que promover uma assembleia, de certeza houve o fecho. Daí tomaram posse aqueles que tiveram a sorte de ganhar o lugar por unanimidade. Todos estavam lá. Agora, chegado o momento de saída, decidiu-se que a [atual] direcção devia fazer a entrega à nova direção daquilo que é o património da Rádio. O presidente não tinha nenhuma ação. Estava lá o presidente do município, estava lá o diretor da Educação, estava lá o comandante da polícia e haviam muitos convidados" contou Geraldo Sextafeira.
Com a palavra, o Conselho Municipal
Tomé Alfândega Maibeque, presidente do Conselho Municipal da Vila de Catandica, foi questionado sobre seu envolvimento na questão. Mas limitou-se a dizer que o assunto não era com ele.
"Eu sou presidente do município. Não tenho a nada a ver com isso. Somente fui convidado para o ato, só convidado simplesmente", declarou. Maibeque também esteve presente na reunião da assembleia geral feita pela Associação Cultural Factos de Barué.
Há solução para o conflito?
Naldo Chivite, oficial de comunicação no Fórum das Rádios Comunitárias (FORCOM), disse estar de malas aviadas para o local do conflito para primeiro se inteirar e, em seguida, tentar uma solução.
"Nós, para termos uma posição, temos de nos inteirar do problema. Mas estamos a gerir internamente o conflito e ver que tipo de apoio podemos dar. Até então ainda não temos nenhuma posição como FORCOM, porque esta é uma questão interna da Rádio de Catandica. Até à próxima semana o assunto estará resolvido. Casos como este não tem sido muito comuns, pois trata-se de um problema interno", assegurou Chivite.
A DW África em Manica contactou o presidente nacional da organização de defesa da liberdade de imprensa MISA-Moçambique, Fernando Gonçalves. Ele disse que não tinha ainda nenhuma comunicação oficial sobre o assunto, mas prometeu pronunciar-se depois de receber informações.