Moçambique: Quais os desafios do próximo Presidente?
7 de maio de 2024Com as eleições presidenciais de Moçambique a aproximarem-se, alguns partidos políticos já apresentaram os seus candidatos, incluindo a FRELIMO com Daniel Francisco Chapo e o MDM com Lutero Simango. Já a RENAMO ainda está em processo interno de escolha.
Numa entrevista exclusiva à DW África, Adriano Nuvunga, do Centro de Democracia e Desenvolvimento, elenca os principais desafios que o próximo Presidente enfrentará e destaca a necessidade premente de combater a corrupção e promover um diálogo nacional inclusivo como elementos cruciais para o futuro político de Moçambique.
Sem descartar a sua própria candidatura, Nuvunga lança luz sobre a possibilidade de um candidato da sociedade civil assumir a presidência, destacando que o espaço político moçambicano é maior do que os partidos políticos dominantes, e que uma abordagem mais inclusiva poderia ser benéfica para o país, especialmente face aos desafios atuais.
DW África: Quais deveriam ser, na perspetiva da sociedade civil e do cidadão comum, os principais desafios do próximo Presidente da República?
Adriano Nuvunga (AN): Os principais desafios daquele que for eleito como Presidente da República incluem, em primeiro lugar, o combate à corrupção. Desde o topo da pirâmide até a base. O problema central de Moçambique é que a liderança política máxima do nosso país é vista como promotora e principal beneficiária da corrupção. Segundo lugar é promover um diálogo nacional intra e transpartidário para permitir que todas as vozes tenham um campo e espaço de participação, que Nyusi não conseguiu trazer. Isso vai permitir, entre outros assuntos, a solução do assunto Cabo Delgado e começa, na verdade, com o combate à corrupção, o respeito às diferenças e ao Estado de direito democrático.
DW África: Algum dos candidatos já conhecidos têm o perfil adequado para vencer os desafios do futuro?
AN: Temos agora o candidato da FRELIMO, vamos ter um candidato da RENAMO e já temos o candidato do MDM. Vimos a eleição dentro do partido FRELIMO, fala-se que houve cerca de 140 votos em branco. E este candidato foi eleito com menos de 50% dos votos. Fica uma vitória bastante fraca, que decorre da percepção que se tem de que ele não é a pessoa que, neste momento, está preparada para carregar os desafios do país. Ele não tem essa preparação. Pode rapidamente estudar os assuntos para liderar o país. Mas não é o líder que se esperava neste momento.
DW África: Em Moçambique, um candidato que não pertença a um partido político, um representante da sociedade civil portanto, teria, em teoria, possibilidades de ser eleito? Ou os candidatos têm forçosamente que ser indicados por um dos partidos políticos representados no Parlamento?
AN: Moçambique político é maior do que o Moçambique que junta FRELIMO, RENAMO e MDM. FRELIMO, RENAMO e MDM são pequenos em relação ao espaço político e democrático da sociedade moçambicana - apesar de estes partidos, fundamentalmente FRELIMO e RENAMO, estarem a monopolizar o espaço e a utilizar os instrumentos do Estado para excluir e marginalizar a sociedade moçambicana. Com isso dito, é sim possível uma pessoa da cidade civil a exceder. É possível, sim. Organizadamente pode-se colocar uma pessoa da cidade civil na presidência para dar resposta aos anseios que, neste momento, não se tem a certeza de que o timoneiro que vai sair destes (partidos) vai responder a estes desafios.
DW África: E existe a possibilidade de o próprio Adriano Nuvunga um dia ser candidato ao cargo de Presidente da República de Moçambique?
AN: Nós somos produtos de processos de história. A nossa existência, a nossa atuação responde aos desafios do momento. Então, vamos ver o que é que o futuro nos reserva em relação a isso. Não deixamos nenhuma porta fechada, deixámos-lhas abertas e vamos ver o que é que o futuro nos reserva.