Morna a um passo de ser Património Imaterial da Humanidade
8 de dezembro de 2019Por estes dias, ouvem-se com frequência, no Centro Cultural de Cabo Verde em Lisboa, os acordes melodiosos que sustentam a morna, género musical cabo-verdiano que está a um passo de ser Património da Humanidade.
"Sim, brevemente teremos a decisão e contamos ter uma decisão positiva para a alegria do povo cabo-verdiano merecidamente," diz José Silva, coordenador do Centro Cultural de Cabo Verde, que fez coincidir o arranque da sua programação com o Dia Nacional da Morna, assinalado a 3 de dezembro.
"Isto é como a cereja em cima do bolo, porque a morna é uma música de Cabo Verde, mas conhecida hoje mundialmente e apreciada em toda a parte," garante José Silva, referindo-se a uma futura nomeação pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Desde a passada terça-feira (03.12), o centro acolhe uma exposição que retrata este estilo musical nas suas mais diversas formas. Estão aqui reunidas obras dos artistas cabo-verdianos António Firmino e Kiki Lima, também músico, que já pintou cerca de 80 quadros sobre a morna.
"Portanto, a morna faz parte de mim e da minha carreira," afirma Kiki Lima, que acolhe a elevação a património mundial.
"É um orgulho grande, por todas as razões, porque além de apreciador, sou um contribuinte. Eu faço mornas, executo mornas cantando ou tocando. Eu convivo com a morna todos os dias, todas as semanas. Portanto, tem tudo a ver comigo," diz.
Património da Humanidade
Na próxima semana, em Bogotá, capital da Colômbia, durante a reunião do Comité do Património Cultural Imaterial da UNESCO, vai ser ratificada a decisão que torna a morna Património da Humanidade, depois da aprovação do comité técnico dos peritos daquela organização das Nações Unidas.
Nancy Vieira, uma das mais jovens intérpretes da morna, vai marcar presença no evento, na Colômbia. Para a cantora cabo-verdiana, este é um momento especial.
"Tem um grande significado simbólico muito importante para mim, mas a verdade é que a protagonista lá é a morna; é Cabo Verde a protagonista. Não é artista nenhum, não é intérprete nenhum que fosse eu ou outro amante e defensor da morna como eu própria sou," considera.
Programação em Portugal
Nos dias 12 e 17 de dezembro - este último, aniversário da morte de Cesária Évora - os cabo-verdianos e amigos de Cabo Verde voltam a reunir-se no Centro Cultural em Lisboa para assinalar este marco na história da música do arquipélago.
Além da exposição "Morna, Factos e Artefactos", teve lugar um recital e apresentação da "Coleção Morna" pelo jornal Público e Expresso das Ilhas.
No dia 12, é inaugurada outra exposição, desta vez sobre instrumentos musicais, seguida de um workshop. E, no dia 17, realiza-se uma palestra sobre a morna, antecedida da intervenção do embaixador de Cabo Verde em Portugal, Eurico Monteiro.
Todos os eventos encerram sempre com uma sessão musical com artistas cabo-verdianos, entre os quais Lura e Maria Alice.