Movimento Nacional Cabinda diz não às eleições angolanas
22 de agosto de 2012O Movimento Nacional Cabinda é uma de várias organizações integradas por cabindas no exílio que se batem por uma Cabinda independente de Angola. O MNC foi fundado em 1989 em Kinshasa, na Republica Democrática do Congo, e - segundo os estatutos - bate-se por uma independência do território, que deverá ser alcançada por meios diplomáticos e pacíficos.
Por isso o MNC demarca-se da FLEC. Um dos representantes do movimento é Bartolomeu Capita, que vive há mais de 20 anos na Suiça, como refugiado político sob tutela do Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). A DW África falou com Bartolomeu Capita para perceber, como os cabindas no exílio seguem a campanha eleitoral em Angola.
DW África: Como avalia a posição dos partidos políticos, nesta campanha eleitoral, em relação a questão de Cabinda?
Bartolomeu Capita (BC): Para mim é muito frustrante porque não gostamos absolutamente nada de ouvir o que os responsáveis angolanos dizem. A UNITA, a maior força da oposição em Angola, e a FNLA prometem-nos diálogo, tal como a CASA-CE e o próprio MPLA, partido no poder. Mas já vimos que é tudo uma espécie de intrujice. É frustrante ouvir o governo dizer que Portugal é que lhes deixou Cabinda. Portugal não lhes deixou absolutamente nada porque os Acordos de Alvor foram imediatamente aplicados para preservar a integridade territorial de Cabinda. Custa aos angolanos entenderem a identidade de Cabinda como um país independente.
DW África: Então não vê nenhum partido que dê voz aos anseios do Movimento Nacional Cabinda?
BC: Sim, é isso. Mas no caso do PRS (Partido de Renovação Social) vê-se que há alguma coisa na questão de Cabinda mas que lhes custa defender. Porque quando se diz que tem de haver debates a nível internacional é porque se reconhece que o problema de Cabinda não é unicamente da competência do Estado angolano. Pensamos que os angolanos deviam ter feito mais, pelo menos lançarem a questão para a comunidade internacional, incluindo a Alemenha que conhece muito bem o processo. Estive em Berlim, o partido da chanceler alemã Angela Merkel ajudou-me, tive um gabinte no centro da capital alemã durante dois anos. É uma pena que as fundações angolanas não tenham tido essa coragem de se pronunciarem sobre a questão de Cabinda.
DW África: Quais são as suas propostas?
BC: Continuamos a insitir que não existe outra possibilidade se não for reconhecido o direito de Cabinda à autodeterminação e independência. Não é por obstinação ou egoísmo, o facto de Cabinda não ter fronteiras comuns com Angola dificulta a relação com o país. O facto do povo de Cabinda ter mais afinidades culturais com os dois vizinhos, que são os dois Congos, haverá sempre problemas entre Angola e os vizinhos. Já falamos sobre isso com a comunidade internacional. Não é a questão do petróleo como dizem muitos angolanos. Temos a nossa história, não fomos colonizados por Portugal, assinamos um acordo com Portugal e fomos protegendo um e outro. E até agora vimos que Portugal fez muito melhor do que os angolanos. Para nós só a independência pode pacificar aquela sub-região.
DW África: O que os cabindas vão fazer nestas eleições?
BC: Não há vantagem alguma para os cabindas envolverem-se nestas eleições. Não nos diz respeito, não somos angolanos e nem queremos ser. O que dissemos é que se existir um partido angolano que se pronuncie abertamente a favor da auto-determinação e independência de Cabinda, nesse caso terá a nossa simpatia. Mas até agora nenhum deles se pronunciou nesse sentido. Portanto, não nos interessa eleger qualquer partido angolano.
Autor: António Cascais
Edição: Nádia Issufo/António Rocha