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Moçambicano activo em denúncias contra a Vale do Rio Doce é impedido de entrar no Brasil

18 de junho de 2012

O activista da ONG moçambicana Justiça Ambiental, Jeremias Vunjanhe, foi impedido de entrar no Brasil, acusado de tráfico de drogas. Em entrevista, ele nega e revela porque se tornou indesejado no país.

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©RAMADHAN KHAMIS/PANAPRESS MAXPPP Down town Maputo. Centre ville de Maputo.
Maputo MosambikFoto: picture-alliance/maxppp

As autoridades brasileiras impediram a entrada do jornalista e activista da ONG moçambicana Justiça Ambiental, Jeremias Vunjanhe, no Brasil. As justificativas são descabidas, de acordo com o moçambicano. Uma delas é a acusação de tráfico de drogas.

Vunjanhe ia participar nas Cimeiras dos Povos e da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável - Rio+20 -, mas foi impedido de entrar no país, no último dia 12 de junho, e obrigado a retornar a Moçambique.

Entretanto, ele embarcou novamente nesta segunda-feira (18.06) para o Rio de Janeiro, depois de receber um novo visto. A ONG moçambicana exige das autoridades brasileiras um pedido de desculpas e já garantiu que vai investigar o caso. Na entrevisa a seguir, Jeremias Vunjanhe revela à DW África por quais motivos se tornou um desafeto do Brasil.

DW África: Quais são as suspeitas da Justiça Ambiental (JA)?

Jeremias Vunjanhe: Achamos que não é uma decisão tomada ao acaso. Quem eventualmente estaria interessado nisso? Não temos evidências e provas.

Jornalista e activista da ONG moçambicana Justiça Ambiental, Jeremias Vunjanhe, foi acusado de tráfico de drogas
Jornalista e activista da ONG moçambicana Justiça Ambiental, Jeremias Vunjanhe, foi acusado de tráfico de drogasFoto: picture alliance/dpa

Sabemos sim que a Justiça Ambiental e eu próprio estamos envolvidos em campanhas de denúncias e defesa dos direitos e interesses das comunidades e que isso muitas vezes, até mesmo dentro do próprio país, tem sido alvo de críticas e até ameaças.

É mais um desses sinais de ameaça e de tentativa de calar aquilo que tem sido a nossa posição em vários assuntos que temos desenvolvido.

DW África: Associa isso a alguma empresa que esteja a atuar em Moçambique? Sabemos que a JA trabalha muito com o caso da Companhia Vale do Rio Doce em Tete.


JV: Não associamos isso seja a quem for, muito menos à Vale. Agora, é uma verdade que nos últimos meses batemos por todas as vias na defesa dos interesses das famílias reassentadas pela Vale.

Denunciamos, por todos os meios e com toda a contundência, as péssimas condições que as famílias reassentadas pela Vale enfrentam. Inclusive, eu próprio e a equipe da JA estivemos a travalhar em Cateme, no último mês de abril, e chegamos a ser levados para as esquadras de polícia, sofremos intimidações. Isso é uma verdade!

DW África: Qual seria sua participação nas Cimeiras dos Povos e Rio+20?


JV: Para a apresentação da JA no Rio de Janeiro, um dos principais objetivos era expôr o caso da Vale, naturalmente denunciando os maus procedimentos que a Vale tem feito em Moçambique. A própria Vale, que por sinal financia a Rio+20, e o governo de Moçambique sabem disso, que nós mais uma vez iríamos expôr esse caso.

Denúncias referentes às péssimas condições que as famílias reassentadas enfrentam podem ter causado desafeto
Denúncias referentes às péssimas condições que as famílias reassentadas enfrentam podem ter causado desafetoFoto: AP

Portanto, a Vale, bem como o governo de Moçambique e vários outros setores da sociedade moçambicana eventualmente interessados na forma como o projeto é gerido, acompanham os nossos trabalhos. Não temos associação direta, porque não temos evidência. Mas é uma hipótese eventualmente a admitir.

DW África: E o que a Justiça Ambiental pretende fazer agora?

JV: No dia 14 de junho, tivemos uma audiência com o consul da Embaixada do Brasil e nesta altura a JA apresentou as suas exigências, uma delas é que o seu representante voltasse o quanto antes para a Rio+20. Isso já parece possível, pois já me foi concedido um novo visto.

A segunda exigência, que continua na mesa, é a questão da retirada do meu nome da lista do Sistema Nacional de Procurados e Impedidos da Polícia Federal do Brasil, porque não há razões.

A terceira exigência é que as autoridades brasileiras façam um pedido de desculpas público e assumam as consequências - quer financeiras, quer morais - da decisão que tomaram de acusar-me, causando naturalmente perdas financeiras e manchando a imagem da Justiça Ambiental e de seu funcionário, pondo em causa a minha integridade moral e profissional.

Controvérsias

Jeremias Vunjanhe obteve o visto antes da sua deslocação para o Brasil. A Polícia Federal brasileira mantém a acusação de que ele trazia o visto de turista, pelo que a polícia o tratou como turista. As autoridades migratórias disseram que Jeremias Vunjanhe não se apresentou como ativista ou participante na cimeira e não apresentou qualquer comprovante de hospedagem e de sua capacidade financeira para estar na Cúpula Mundial dos Povos.

Organizações que participaram da Cimeira dos Povos (que antecede a Conferência Rio+20), no Rio de Janeiro, assinaram uma nota de repúdio ao tratamento dado ao moçambicano.

A Justiça Ambiental, institução da qual Vunjanhe faz parte, também publicou um comunicado em sua página no Facebook, informando que irá se empenhar em 'desvendar esta questão e razões por detrás deste vergonhoso acontecimento e que não irá desistir enquanto não for devidamente clarificado, visto o acto prejudicar não apenas a imagem e trabalho da Justiça Ambiental como instituição mas acima de tudo denegrir a imagem e integridade do Sr. Jeremias, sem a apresentação de qualquer fundamento'.
 
O ministério das Relações Exteriores do Brasil informou que consultou a Polícia Federal e que aguarda uma resposta sobre os motivos que impediram o ativista moçambicano de entrar no país e sobre a possibilidade de ele ainda participar da conferência.  
 
Autora: Nádia Issufo/Cris Vieira/Lusa.
Edição: António Rocha

Organizações que participaram da Cimeira dos Povos assinaram uma nota de repúdio ao tratamento dado ao moçambicano
Organizações que participaram da Cimeira dos Povos assinaram uma nota de repúdio ao tratamento dado ao moçambicanoFoto: Fotolia

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