Moçambicanos aproveitam trégua mas com receios de "lapsos"
6 de janeiro de 2017O aumento do fluxo de passageiros já é visível no terminal rodoviário da Junta, no leste da capital Maputo. Nelson Florindo regressa à Beira, centro do país, numa viagem que vai durar um dia. Nos últimos tempos, por causa da instabilidade, eram precisos dois a três dias para chegar ao destino.
Florindo compara os dois períodos: "Antigamente saíamos daqui às correrias para apanharmos a coluna militar. Agora andamos à vontade mesmo sabendo que em qualquer lugar e hora passamos nas zonas de conflito."
Este passageiro, que mesmo nos tempos de maior instabilidade nunca deixou de viajar, conta que passou por momentos desagradáveis entre o rio Save e Muxúngue. E nem quis acreditar quando este mês voltou a passar por aquela zona: "Dia 1 passei pelo rio Save às 17h20. Naquele troço perigoso andamos sem nenhum medo e significa que as coisas estão bem."
Ainda receios de ataques
Luís Sanda, outro passageiro que vai para a Beira, também viajava nos tempos de crise. Mas ainda não desfrutou de uma viagem no momento de tréguas: "Temos que ter em conta que pode acontecer algum lapso por aí, mas creio que vamos viajar bem."
Timóteo Mavota é motorista e desde que foi decretada a trégua de natal e fim de ano fez três viagens a Tete, também no centro de Moçambique: "Antes não era fácil fazer três viagens por causa das colunas militares. Sempre parávamos. Sair daqui a Tete levávamos dois a três dias."
Mutombo António, outro motorista, prepara-se para viajar para a cidade da Beira. Na altura da crise levava menos de metade dos passageiros habituais: "Desde que perceberam que já não há ataques conseguimos encher os carros. Desde que as colunas militares pararam estamos a encher os carros."
Uma satisfação também para o motorista Armando Cuamba, que vai até a cidade de Quelimane, província central da Zambézia. Mas pede mais: "Veja só, tivemos duas semanas. As pessoas passaram bem. Foram e voltaram sem nenhum problema. Agora são dois meses, é de louvar. Mas por que não o fazem para sempre? É aquilo que desejamos e sonhamos sempre com a paz no nosso dia-a-dia!"
Transportadores esperançosos
O vice-presidente da AMOTRANS, a Associação Moçambicana dos Transportadores, Paulo Muthisse, espera que este ano haja melhorias neste setor: "Uma vez que o ano passado foi muito dificil. Há muita coisa que não conseguimos. Quase que corriamos o risco de perder as nossas viaturas. Acredito que nestes dois meses vamos recuperar a nossa imagem com a banca."
Na altura da instabilidade, a associação só conseguia fazer viagens com dois autocarros em toda a região centro. Muthisse conta: "Nem conseguíamos tirar seis. Às vezes dois autocarros. Juntávamos os passageiros e chegávamos no Inchope, província de Manica, distribuíamos."
Agora o cenário voltou à normalidade, com seis autocarros a sair todos os dias para a zona centro: "Significa que para cada capital provincial vai um carro. Mas como estamos num momento da quadra festiva tiramos dois em cada capital provincial, portanto estamos a falar de 12 autocarros. Mas o normal são seis autocarros por dia."
Desde que a instabilidade político-militar se iniciou, em 2014, altura que Afonso Dlhakama, o líder da RENAMO, principal partido da oposição, contestou os resultados eleitorais, muitas empresas de transportes somaram prejuízos. Mas com o cessar-fogo sonham agora com dias melhores.