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Vítimas da xenofobia na África do Sul regressam ao país

Leonel Matias (Maputo)17 de abril de 2015

O primeiro grupo de moçambicanos em fuga da vaga de xenofobia na África do Sul chegou ao centro de trânsito de Boane, no sul de Moçambique.

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O primeiro grupo de 107 moçambicanos vítimas de xenofobia na cidade sul- africana de Durban chegou esta sexta feira (17.04) ao país, numa altura em que voltaram a registar-se em Moçambique alguns incidentes, pelo segundo dia consecutivo, em retaliação contra os atos de xenofobia.

Esses primeiros moçambicanos, de um total de 600 que estavam refugiados em centros de acolhimento na região sul-africana de Durban, foram transportados em dois autocarros e são maioritariamente oriundos das províncias de Maputo, Gaza e Inhambane, no sul do país.

Frustada a esperança de um futuro melhor, depois de desalojados das suas residências, despojados de todos os seus bens e vítimas de perseguição, muitos moçambicanos a residir há vários anos em Durban não vêm alternativa senão regressar à terra mãe.

Centro de trânsito a funcionar em Boane

Mosambik Land und Leute Hafenstadt Inhambane Fischer
InhambaneFoto: J. Sorges

Alfredo Santana e Domingos Eusébio fazem parte de um primeiro grupo de moçambicanos que chegou esta sexta-feira ao centro de trânsito provisório criado pelo Governo, em Boane, cerca de 30 quilómetros da cidade de Maputo.

Segundo Alfredo Santana os sul-africanos matam e espacam os estrangeiros indiscriminadamente para além de "roubarem tudo que conseguimos adquirir durante muitos anos de trabalho e sacrifício. Deixei lá as minhas crianças, que nasceram na África do Sul e são sul-africanas. É muito triste o que se passa naquele país", lamenta Santana.

Também num tom desolador, Domingos Eusébio conta que "fui várias vezes agredido e por fim os sul-africanos entraram na minha casa e levaram tudo. Não tive tempo de recolher os meus bens. Espancaram e feriram com armas brancas muitas pessoas e a minha única ideia era fugir de qualquer forma e salvar assim a vida".

No centro de transito de Boane foram instaladas 21 tendas de abrigo, sanitários e uma unidade hospitalar. Os regressados começam a deixar ainda esta esta sexta- feira o centro com destino às suas respetivas casas.

A onda de xenofobia, para além de lançar os regressados na desgraça,t erá um forte impacto negativo em muitas famílias, que tinham constituído na África do Sul, segundo o Presidente da Associação moçambicana de mineiros, Ernesto Quive."Corre-se com uma pessoa que é pai e chefe de família só porque é estrangeira, apesar de ter filhos, mulher e sobrinhos sul-africanos. Muitos moçambicanos têm filhos que nasceram na África do Sul. Isso não é crime. É uma autêntica desgraça que se abateu sobre muitas famílias", lamenta Ernesto Quive.

Novos incidentes em retaliação à onda xenófoba

Entretanto, foram reportados novos incidentes esta sexta-feira em Moçambique, pelo segundo dia consecutivo, em retaliação contra a onda de xenofobia na África do Sul.Na estrada nacional numero quatro que liga os dois países, próximo da fronteira de Ressano Garcia, foram colocadas barricadas que provocaram bloqueios a circulação de viaturas com matrícula sul-africana.

Mosambik Land und Leute Hafenstadt Inhambane Fischer
InhambaneFoto: J. Sorges

Por outro lado, trabalhadores moçambicanos na central térmica instalada em Ressano Garcia paralisaram as atividades exigindo a expulsão dos colegas sul -africanos.

Em Inhassouro, provincia de Inhambane, a empresa SASOL esteve parcialmente paralisada e os sul-africanos impedidos de entrar nas instalações.

Apelos à calma

Recorde-se que na quinta-feira(16.04) a empresa sul- africana KHENTZ, que presta serviços à Vale brasileira, fechou as portas e os mais de 120 sul-africanos, regressaram ao seu país.

O Governo moçambicano tem apelado à calma e não à retaliação.

A onda de xenofobia na cidade sul africana de Durban começou dias depois do Rei de Kwazulu Natal, Goodwill Zwelithini, ter exigido o regresso à casa dos imigrantes estrangeiros.

Os estrangeiros são considerados pelos sul-africanos como os principais responsáveis pela alta taxa de desemprego, a falta de habitação e a alta taxa de criminalidade que afetam o país.

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