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Deslocados em Cabo Delgado com apoio insuficiente

Sitoi Lutxeque (Nampula)
3 de setembro de 2020

Deslocados dos ataques de grupos armados em Cabo Delgado, Moçambique, queixam-se de estar a ser enganados com falsas promessas de ajuda das autoridades. A instituição governamental responsável rejeita a acusação.

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Foto: DW/S. Lutxeque

Alguns deslocados  vítimas dos ataques armados na província nortenha de Cabo Delgado, acolhidos na cidade de Nampula, estão a passar por dificuldades por falta de assistência alimentar e abrigo minimamente condigno. Acolhidos na Unidade Comunal Muthita, alguns dizem que foram enganados pelas autoridades governamentais, uma vez que o apoio prometido nunca chegou.

Por falta de centros de acolhimentos, houve deslocados que pediram abrigo a particulares. Outros arrendam moradias enquanto tentam superar o trauma causado pelos ataques.

O deslocado Gil Narciso Pedro, oriundo do distrito de Palma, contou à DW África que está no bairro de Mutaunha desde abril. Foi acolhido numa residência de familiares com os seus cinco parentes.

Pedro diz que foi inscrito numa lista pelas autoridades para que obter acesso a um possível apoio. Mas diz que nunca recebeu nada. Assim que chegou, foi apresentar-se às estruturas locais. "Neste caso, ao nosso chefe do quarteirão. Ele, por sua vez, fez o levantamento, visitou as casas e levou a lista ao chefe do bairro. A partir daí e até hoje, infelizmente, não tivemos nenhum apoio”, lamentou.

Deslocados desmoralizados

Fernando Cornélio é proveniente de Mocímboa da Praia e está na cidade de Nampula desde finais de março. "Fomos recebidos, mas principalmente para nós, que estamos no bairro de Mutauanha, houve grandes obstáculos. Ultimamente já estamos a ficar desmoralizados. Estamos desmoralizados, porque desde maio até hoje estamos a sofrer, sem visitas dos nossos chefes. Sentimos que ficámos isolados”, disse à DW África.

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O Programa Mundial de Alimentação vem em socorro dos deslocadosFoto: DW/S. Lutxeque

Cornélio acrescentou que familiares seus também deslocados vivem em situação muito precária e precisam de assistência especial. "Um irmão meu está em péssimas condições; a esposa está grávida e tem uma criança, ele está totalmente sem comida e sem casa para alugar. Numa primeira fase, quando veio, tinha dinheiro e pagou uma renda de quatro meses. Mas agora que terminou o contrato, estão a ser despejados”, lamentou.

Jeremias Cidela, secretário da Unidade Comunal de Muthita, confirma que houve promessa de ajuda por parte de integrantes da delegação provincial do Instituto Nacional de Acção Social (INAS). Cidela diz que a falsa expectativa deixou os deslocados em situação de desconforto.

Município sem meios para atender deslocados

Na segunda-feira (21.08), para alívio de alguns deslocados chegou algum apoio em forma de géneros alimentícios do Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas (PAM). As rações são pensadas para durar 15 dias.

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O INAS reconhece falta de meios para prestar assistência aos refugiadosFoto: DW/S. Lutxeque

Entre os deslocados que receberam alimentos estava Gil Narciso Pedro, que se mostrou aliviado. Mas considerou a quantidade insuficiente para alimentar os cinco membros da sua família. "Segundo eles [PMA], é para durar 15 dias, pois cada um vai de receber cinco quilos de arroz, meio litro de óleo alimentar e um quilo de feijão”, disse.

Por sua vez, o Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas (PAM) declarou à DW África que a partir de setembro passará a distribuir, aos beneficiários de assistência alimentar humanitária, cestas alimentares concebidas para 30 dias.

O Instituto Nacional de Asção Social (INAS), através do seu delegado provincial em Nampula, Assane Juma, nega que esteja a fazer promessas falsas e diz que tem apoiado deslocados. Admite, no entanro, que o apoio é limitado por falta de verbas.

"O número de refugiados que está a entrar em Nampula é muito grande. Memso que o INAS quisesse fazer cobertura a esses beneficiários, não temos capacidade para enfrentar a situação”, disse.

De acordo com dados governamentais, a província de Nampula conta com pouco mais de 15 mil deslocados acolhidos em diferentes distritos da província.

Nota: Artigo atualizado com declarações do PAM no dia 8 de setembro de 2020 às 12h23 TUC.

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