Malária continua a matar em Moçambique e Angola
13 de dezembro de 2016Moçambique e Angola estão entre os oito países com mais mortes por malária no mundo, representando juntos 7% do peso global da doença, revelou esta terça-feira (13.12) o relatório anual da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o paludismo.
Publicado anualmente pela OMS, o relatório de 2016 conclui que a taxa de mortalidade por malária caiu quase 30% desde 2010, mas em 2015 ainda morreram no mundo 429 mil pessoas devido à doença.
Segundo o documento, cerca de 75% das mortes por malária em 2015 concentraram-se em 13 países, a maioria na África Subsaariana. O país com maior peso nas mortes por malária é a Nigéria, que reúne 26% do total de mortes, seguido da República Democrática do Congo, com 10%.
A Índia, com 6%, o Mali com 5%, a Tanzânia e Moçambique com 4% cada, o Burquina Faso, Angola, Costa do Marfim, Gana, Uganda e Quénia (3% cada), e o Níger, são os restantes 11 países.
Moçambique com 8,3 milhões de novos casos em 2015
Os autores do relatório estimam que Moçambique tenha registado 8,3 milhões de novos casos em 2015 e que 15 mil pessoas tenham morrido naquele ano devido à malária. Em 2010, o número estimado de novos casos no país era de 9,3 milhões e o total de mortos era de 18 mil.
A redução do número de casos e mortes face a 2010 poderá dever-se ao facto de mais de 60% da população moçambicana dormir hoje coberta por redes mosquiteiras tratadas com inseticida e mais de 10% protegida por vaporização residual, as duas formas mais primárias de controlo da transmissão da malária.
Angola com 3,1 milhões de novos casos em 2015Em Angola, a OMS estima que tenham surgido 3,1 milhões de novos casos em 2015, contra 2,4 em 2010; e que no ano passado tenham morrido 14 mil pessoas devido à doença, número semelhante ao de 2010. Segundo o relatório, quase 40% das pessoas em risco no país dormem protegidas por redes mosquiteiras.
Entre os países lusófonos, Cabo Verde e Timor-Leste destacam-se pela positiva, sendo dos que têm menos casos e mortes por malária: Cabo Verde terá tido menos de 50 casos e menos de 10 mortos em 2015 (contra 140 mortos e menos de 10 mortos em 2010), enquanto Timor-Leste terá registado 120 casos e menos de 10 mortos em 2015 (contra 110 mil casos e 220 mortos em 2010).
Cabo Verde é ainda destacado como um dos três países do mundo (juntamente com a Zâmbia e o Zimbabué) onde mais de 80% da população em risco dorme protegida por redes mosquiteiras ou vaporização residual.
Casos de sucesso?
Já em abril deste ano, a OMS incluía Cabo Verde e Timor-Leste num lote de 21 países em condições de eliminar o paludismo nos próximos cinco anos. Nessa ocasião, a agência das Nações Unidas para a saúde, sediada em Genebra, referia-se também a São Tomé e Príncipe.
Os autores escreviam que se esperava que o país eliminasse a malária até 2025, mas admitiam que, com o financiamento adequado e vontade política, essa meta poderia ainda ser alcançada até 2020.
O Relatório sobre a Malária 2016 estima que o arquipélago lusófono tenha registado 3.400 casos e menos de 100 mortos em 2015, contra 4.900 casos e menos de 100 mortos em 2010.
Na Guiné Equatorial, país que em 2014 aderiu à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o número estimado de novos casos subiu de 150 mil, em 2010, para 180 mil, em 2015, enquanto o total estimado de mortos se manteve nos 340.
Já quanto à Guiné-Bissau, os autores do relatório estimam que o número de novos casos tenha caído (de 170 mil para 160 mil), mas que o número de mortos tenha aumentado (de 670 para 680 nos últimos 10 anos).
No Brasil, estima o relatório, a quantidade de novos casos caiu de 440 mil para 180 mil entre 2010 e 2015, enquanto o número de mortos diminuiu de 98 para menos de 50 no mesmo período.
"Plasmodium falciparum" parasita mortíferoAo contrário dos países africanos, onde a malária é maioritariamente provocada pelo parasita mais mortífero (Plasmodium falciparum), no Brasil, mais de 80% dos casos são causados pelo Plasmodium vivax, que provoca uma versão mais suave da doença.
Existem várias espécies, mas o Plasmodium falciparum é o mais perigoso para os humanos e o mais prevalente em África, onde se concentram 90% das mortes pela doença.
Os primeiros sintomas da malária são febre, dores de cabeça e vómitos e aparecem entre 10 e 15 dias depois da picada do mosquito, mas se não for tratada, a malária por P. falciparum pode progredir para uma fase grave e acabar por matar.
O combate à doença passa por uma diversidade de estratégias, que passam pela prevenção, através do uso de redes mosquiteiras impregnadas de inseticida e pulverização do domicílio, assim como pelo diagnóstico e tratamento dos casos confirmados com medicamentos anti-maláricos.
Ainda não existe qualquer vacina para a doença, mas a OMS anunciou no mês passado (novembro) que a primeira vacina contra a doença será lançada em 2018 na África Subsaariana.