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Ataques a Cabo Delgado começaram há 1 ano

Leonel Matias (Maputo)
5 de outubro de 2018

Passa esta sexta-feira (05.10) um ano desde que um grupo de homens armados iniciou ataques na província moçambicana de Cabo Delgado. Grupo ainda não fez qualquer reivindicação e nem deu a conhecer suas motivações.

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Mosambik, Macomia: Mucojo village had houses destroyed by armed groups
Cenário de destruição depois de ataques no distrito de Macomia (Cabo Delgado)Foto: Privat

Os primeiros ataques deste grupo armado desconhecido tiveram como alvos três postos da polícia na vila de Mocímboa da Praia e estenderam-se já a outros três distritos nomeadamente Palma, Macomia e Nangade.

Segundo a polícia, os ataques saldaram-se já em 90 mortos e mais de 60 feridos. Mais de mil casas foram incendiadas.

Durante as suas incursões nas aldeias, os atacantes têm usado armas brancas, nomeadamente catanas, e em várias ocasiões decapitaram as suas vítimas.

Vão ser ouvidos 214 arguidos

Calton Cadeado
Calton CadeadoFoto: privat

A justiça moçambicana iniciou esta quarta-feira (03.10) o interrogatório dos supostos atacantes. Serão ouvidos cerca de 214 arguidos indiciados da prática dos crimes de associação para delinquir, posse e uso de armas proibidas, roubo e fogo posto, entre outros.

Questionado pela DW África sobre a leitura que fazia sobre este tipo de ataques, o analista Calton Cadeado afirmou que "prefiro dizer que temos mais terror e criminalidade do que necessariamente um ato político de violência para direcionar ao Estado com uma reivindicação explícita".

Para o analista Egídio Vaz "este conflito surge na sequência dos esforços dos Governos moçambicano e tanzaniano em controlar um conjunto de atos criminosos tanto ao nível da caça furtiva, da exploração dos recursos do subsolo, da pesca, melhor controlo das fronteiras, da flora e da fauna no geral".

Insurgência sem cunho religioso

Egídio Vaz considera importante que tenha ficado claro que não se trata de uma insurgência de cunho fundamentalista religioso, como chegou a especular-se.Os ataques acontecem numa altura em que estão em curso investimentos de companhias petrolíferas (Anadarko, Eni e ExxonMobil) em gás natural na região, mas sem que até agora tenham entrado no perímetro reservado a estes empreendimentos.

Egidio Vaz Historiker aus Mosambik
Egídio VazFoto: Marta Barroso

Para o analista Calton Cadeado "entrar no perímetro de atuação desses projetos é bastante difícil. Se isso acontecer será por falha de segurança. Aquela é a zona mais "securitizada” de Moçambique neste momento.”

Contrariamente a algumas vozes que defendem uma intervenção estrangeira para ajudar a debelar o grupo, os dois analistas acham que não se justifica a avaliar pelos atuais resultados.

Ambos analistas consideram que há condições favoráveis para  debelar o grupo internamente. "Estou a falar da vigilância popular que aumentou e da segurança que se intensificou. Depois estou a falar também do facto de que esta acção está confinada a província de cabo delgado", afirma Calton Cadeado ao apontar ainda que Moçambique e a Tanzânia aumentaram a  cooperação para o combate ao crime transfronteiriço e não há muitos recursos nas zonas atingidas pelos ataques para o grupo se autosustentar economicamente.

Moçambique: Há 1 ano começaram os ataques em Cabo Delgado

Grupo vai desaparecer

Por seu turno, o analista Egídio Vaz é peremptório ao afirmar que o grupo vai desaparecer, tal como aconteceu em experiências similares com outros movimentos de insurgência como os naparamas, a rombézia e um outro criado em Dombe (Manica).

"Para a experiência história militar em Moçambique este grupo a ter que desvanecer, tal como os outros, não seria muita novidade.”