Moçambique: Há luta "saudável" pela sucessão na RENAMO?
12 de dezembro de 2018Oficialmente a RENAMO, o maior partido da oposição em Moçambique, informou que não foram escolhidos os candidatos à liderança do partido durante o VI Conselho Nacional que decorreu em finais de novembro de 2018.
Mas pelos posicionamentos de determinados setores da RENAMO já se antevêm os possíveis nomes. E há até quem já tenha assumido publicamente a sua pretensão: Elias Dhlakama é um deles. O irmão de Afonso Dhlakama já está em "operações de charme": "Sim, vou candidatar-me e conto com o apoio de todos os membros da RENAMO, do Rovuma a Maputo."
Acredita-se que o irmão do falecido líder do partido tenha apoio de algumas figuras de peso da RENAMO, como por exemplo da também familiar Ivone Soares, líder da bancada parlamentar do partido, e Manuel de Araújo, edil de Quelimane. Parte influente da diáspora renamista também já assume posição junto de Elias.
Elias Dhlakama visto como corrompido pela FRELIMO
Convidado a falar sobre o perfil do provável candidato, o analista Calton Cadeado disse que "Elias Dhlakama é visto por algumas pessoas, sobretudo pela elite militar, como uma pessoa que foi corrompida pela FRELIMO, que esteve nas Forças Armadas a usufruir de todos os benefícios e benesses que o Estado oferece e nunca lutando pela causa da RENAMO e agora aparece como o messias e salvador da RENAMO, a morrer de paixão pela RENAMO, quando estavam a precisar dele ele estava no bem bom."
Mas quem não é seu aliado também deixa clara a sua posição. No começo de dezembro, quando a DW África procurava informações sobre Elias Dhlakama, o porta-voz da RENAMO, José Manteigas, reagiu de forma curiosa: "Eu não conheço totalmente o perfil dele e, portanto, não estou em condições de prestar nenhuma informação sobre ele. E também não vejo uma pessoa próxima que possa falar dele. É uma pessoa com quem não tenho nenhuma convivência."
As vantagens de Ossufo Momade
Portanto, este é o momento de se saber as linhas com que se cose cada um. O atual líder interino da RENAMO, Ossufo Momade, é outro nome que certamente entrará na corrida. E assim a previsível máxima de que uma vez interino a liderança definitiva era algo automático cai por terra.
Momade está no bastião do partido, na Serra da Gorongosa, próximo dos guerrilheiros, grupo fundamental para a manutenção do trunfo do partido na disputa com a FRELIMO, o partido no poder.
"Ossufo Momade tem a vantagem de ser o coordenador político e por essa via é visto como o líder. E mais do que isso, ele pode eventualmente ganhar vantagem nesta corrida por causa dos resultados eleitorais que a RENAMO teve agora", sublinha Calton Cadeado.
Manuel Bissopo é o elo mais fraco
Manuel Bissopo é um dos nomes que já era apontado para liderar o partido logo após a morte de Afonso Dhlakama, a 3 de maio de 2018. Na altura, numa entrevista à DW África, o especialista em boa governação Silvestre Baessa argumentou, entre outras coisas, que do ponto de vista da RENAMO militar poderia encontrar alguma legitimidade e mesmo em relação à RENAMO política.
Mas se questionava se teria o apoio de atores que apoiam as bases do partido. Ao lado dos Elias e Ossufo, as suas chances parecem diminutas.
Capacidade de gerir disputas internas
Com a morte de Afonso Dhlakama acreditava-se que a RENAMO viveria lutas internas por causa do poder, mas tal nunca aconteceu, pelo menos publicamente. Mas neste momento está claro que há lutas que se podem apelidar de "saudáveis" para a indicação dos candidatos.
Trata-se de sinal de maturidade essa capacidade de gestão de diferenças? O analista Calton Cadeado responde: "Acho que com todos os erros políticos que cometeu Dhlakama soube impor uma disciplina dentro do seu partido a tal ponto que era difícil ouvir criticas contra a RENAMO fora do partido e quer me parecer que estão a continuar agora [com a disciplina].
O filósofo Severino Ngoenha lembra que até agora a RENAMO foi dirigida por pessoas e escolhidas por razões militares e não eleitas democraticamente.
"Este é um balão de ensaio, vamos ver se a democracia que reivindicam para o país são capazes dentro do partido. Agora, se eles se fragmentarem e não forem capazes de se submeterem a vontade da maioria e aceitarem como responsável aquele que sair do debate político que estão a levar a cabo quer dizer que não tem capacidade para serem democratas", adverte Ngoenha.