Incineração de marfim e cornos de rinoceronte
6 de julho de 2015Aconteceu nesta segunda-feira (06.06) a primeira incineração de presas de marfim, cornos de rinocerontes e outras peças da história faunística de Moçambique. Cerca de 2.500 quilos resultantes da caça furtiva, avaliadas em milhões de euros, estão até agora a ser reduzidas a cinzas.
A inciativa é do ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural e envolve o ministério do Interior. As organizações e ativistas ambientais também participam na qualidade de observadores.
A DW África falou com um deles, Carlos Serra Jr., que começa por destacar esta iniciativa inédita e o seu simbolismo.
DW África: Trata-se de uma iniciativa inédita no seu país?
Carlos Serra Jr.(CS): Sem dúvida, porque anteriormente este ato se resumia a apreensão e depois o armazenamento dos produtos apreendidos “sine die”. A legislação prevê, entre outras soluções que os produtos possam ser alienados em hasta pública. Mas a decisão governamental foi no sentido da sua incineração. Até porque houve sinais de tentativas que nos levaram a crer que, de facto, enquanto não estiverem criadas as condições de segurança necessárias esta é a melhor solução. Portanto, incineração de tudo que foi apreendido nos últimos tempos e passando esta mensagem muito forte para o mundo mostrando o real comprometimento do Governo moçambicano na luta contra a caça furtiva, contra o comércio internacional de produtos faunísticos e contra o crime organizado. Mas também uma mensagem para os sindicatos do crime organizado para deixar claro que o crime não compensa. Foi preciso muita coragem e neste aspeto acho que Moçambique deu um exemplo muito importamte.
DW África: Que quantidade de peças foram hoje queimadas?
CS: A pilha que foi constituída e cujo fogo foi ateado na cerimónia pública dirigida pelo ministro da Terra, Ambiente e do Desenvolvimento Rural, Sérgio Correia, continha marfim na forma de dentes, alguns deles de considerável dimensão, na forma também de esculturas e pulseiras e outros objetos de marfim. Também estão chifres de rinocerontes e alguns objetos feitos a partir desses chifres, para tentar ludibriar as autoridades nas fronteiras. Por outro lado, na pilha estão carapaças de tartarugas marinhas, espécie protegida em Moçambique, patas e caudas de elefantes e outras coisas ainda mais estranhas que têm valor em alguns mercados. Podia-se ainda ver troféus de outras espécies tipo búfalo e mais outros. Isto tudo totalizando mais de duas mil toneladas de produtos faunísticos. O fogo foi ateado ao princípio da tarde desta segunda-feira (06.07) e só terminará quando tudo estiver em cinzas. Devo dizer que faço parte da equipa de observadores que vai permanecer no local até amanhã terça-feira (07.07) e ser rendido por outros colegas.
DW África: E onde está a acontecer esta incineração?
CS: Está a ocorrer no autódromo de Maputo junto à praia. Foi o local escolhido dada a sua dimensão, porque tinha que ser um espaço suficientemente amplo para criar um perímetro de segurança. Estamos num área segura protegida pela força de proteção de recursos naturais e aqui vamos permanecer para que nada ocorra de errado. Só que leva tempo, cerca de 24, 36 ou 48 horas, mas vamos concluir o trabalho.
DW África: O marfim e os cornos de rinocerontes envolvidos no último caso que causou um grande escândalo em Moçambique também foram incinerados hoje?
CS: Sim. Tudo aquilo que não foi desviado está aqui. Foi feito um levantamento minucioso, obedecendo as mais rígidas regras internacionais de organização para dar um destino a esse género de produtos faunísticos e também foram colhidas amostras de ADN para efeito de investigação criminal. Isso foi tudo salvaguardado.