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Moçambique: Jornalistas denunciam casos de assédio sexual

Conceição Matende
10 de novembro de 2022

As mulheres jornalistas do norte de Moçambique estão a ser encorajadas a denunciar casos de assédio e de violência de género no trabalho. Este ano foram registados pelo menos dois casos, mas números podem ser mais altos.

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Foto ilustrativaFoto: Sazzad Hossain/DW

Geninha Ossufo é jornalista há mais de quatro anos na rádio Esperança, uma estação comunitária na cidade de Lichinga. A sua paixão pela comunicação levou-a a procurar esta profissão. O que Geninha Ossufo não esperava era que, todos os dias, seria alvo de assédio no seu ambiente profissional.

"Acompanho outras histórias de colegas a passarem pela mesma situação de assédios nas suas redações ou durante as suas atividades. Na verdade, parece que as fontes se tornaram predadores para as mulheres, particularmente para as comunicadoras", relata. "Somos vítimas, sim", reiterou.

Pensar em desistir

Devido aos constantes ataques, Geninha Ossufo admite que já pensou várias vezes em deixar a profissão. "Quando recebemos elogios por razões não associadas ao trabalho, de uma maneira que nos incomoda, ou [somos alvo de] piadas machistas por sermos mulheres, isso faz com que pensemos se dá para continuar como jornalista ou se desistimos, porque o medo de fazer queixa é maior", conta.

A jornalista Artemisa Tivane, do Instituto de Comunicação Social no distrito de Mamdimba, no Niassa, também já viveu experiências semelhantes.

"Já fui assediada, com certeza. Foi uma coisa desagradável, nunca esperei, porque foi constrangedor", resume. "Apesar desse comportamento, fiquei firme naquilo que é o certo, que é o meu papel de comunicar", frisou.

Symbolbild Whistleblower Afrika
Muitas mulheres não denunciam os casos de assédio com medo de represálias no emprego, perpetuando o problema, adverte juristaFoto: Andrey Popov/Panthermedia/imago images

"Mesmo com todo o assédio vivido nunca pensei e nem quero pensar em desistir, pelo contrário, até ganhei mais força para continuar a fazer o meu trabalho, mostrando que nós mulheres somos capazes em todo o canto, seja no jornalismo, assim como em outras profissões", disse.

O jurista Carlos Coelho tem atendido algumas jornalistas vítimas de assédio e afirma que os casos vêm "de vários lados". "Não só de colegas de redação ou colegas da profissão, como também dos superiores hierárquicos e das próprias fontes de informação", indica.

Penas até dois anos de prisão

Pelo menos dois casos de assédio de mulheres jornalistas foram registados este ano pelas autoridades em toda a zona norte de Moçambique. Mas as autoridades acreditam que esse número seja ainda maior.

A lei moçambicana prevê multas e pena de até dois anos de prisão em casos de assédio sexual.

No entanto, de acordo com Carlos Coelho, a cultura do silêncio ainda é bastante forte e é fundamental que as jornalistas vítimas de assédio nas suas redações e outros ambientes profissionais avancem com a denúncia dos casos.

"Isto tem estado a preocupar-nos bastante, porque o silêncio tem estado a permitir que os números de casos possam aumentar. Tivemos dois casos que vieram a público, apresentados no nosso escritório de advogados, mais tenho a certeza que existem muitos e vários casos que não estão a ser denunciados", avançou o jurista.

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