Moçambique: MDM denuncia violência contra militantes
10 de março de 2023"Os nossos delegados são espancados e o material do partido é destruído pelos líderes comunitários locais", disse à agência de notícias Lusa Humberto Escova, delegado provincial da província de Manica.
A situação foi sinalizada por Lutero Simango, presidente do partido, na abertura da reunião da comissão política do MDM, na última quarta-feira (08.03), na cidade da Beira.
Em complemento à denúncia do líder do MDM, os delegados provinciais detalham o que classificam como perseguição recorrente e que agora se repete às portas de um novo ciclo eleitoral em Moçambique, com autárquicas em outubro e eleições gerais em 2024.
Perseguições e violência
Segundo Humberto Escova, pelo menos em seis dos 11 distritos da província há membros do MDM que são vítimas de "perseguições e destruição dos seus símbolos partidários", pelos líderes comunitários e alguns membros da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder desde a independência.
"Os casos são frequentes nesta província" e quando pedem explicações, os autores respondem que têm ordens superiores para suprimir a atividade de outros partidos.
Em Espungabeira chega a haver ameaças de morte contra os militantes, referiu.
Ataques em Tete
Os ataques estendem-se a Tete, diz Claudina Guimarães, delegada provincial do MDM. Naquela província, professores e alguns funcionários do Estado são alvo de ameaças de expulsão do aparelho do Estado caso surjam associados a outros partidos.
"Esta violência acontece em quase todos os distritos da província de Tete, onde membros do MDM são ameaçados, espancados e até expulsos dos bairros onde residem por serem vistos como inimigos", referiu Claudina Guimarães.
Segundo refere, pelo menos dois casos de expulsão aconteceram nos distritos de Mutarara e da cidade de Tete.
"As nossas colegas foram obrigadas a mudar de bairro por serem membros do MDM, outra até já vive na sua 'machamba' (campo agrícola) porque o secretário de bairro onde ele residia recebeu ordens para não a deixar morar ali. Isto não é democracia", rematou.
Casos recorrentes
Lutero Simango apelou na quarta-feira para que os casos de perseguição política sejam denunciados às autoridades, mas fonte policial contactada pela Lusa disse não haver queixas relativamente a episódios recentes.
Apesar das tentativas, não foi possível obter esclarecimentos junto da FRELIMO.
Os casos de violência política são recorrentes em Moçambique e têm sido também denunciados por relatórios de observação eleitoral.
Um dos casos que causou maior impacto foi o assassínio de um ativista e observador eleitoral, Anastácio Matavel, durante a campanha para as eleições gerais de 2019, em Xai-Xai, capital provincial de Gaza, no sul do país. Em 2022, seis polícias foram condenados a penas de prisão entre três e 24 anos pelo envolvimento no homicídio.