Moçambique melhora e Angola piora no índice Bertelsmann de democracia
24 de janeiro de 2014Tudo indica que o mundo não se tornou mais democrático. Embora muitos países tenham melhorado economicamente nos últimos dois anos, somente uma pequena elite econômica beneficia-se do progresso.
O déficit democrático e a falta de reformas sociais são os principais motivos para que cidadãos saiam às ruas para protestar. O Índice Bertelsmann mede o desenvolvimento da democracia e do mercado em 129 países classificados como "em desenvolvimento" ou em "fase de transformação".
Entre os piores colocados no quesito democracia está a Somália na posição 129, Eritréia, na 128 e a Coréia do Norte na 127. Angola está na posição 97 e Moçambique, 70.
Com relação ás análises do índice de 2012, Moçambique permanece estável, com uma leve melhora da posição 72 para a 70. Siegmar Schmidt, professor da Universidade de Koblenz analisou para a DW Africa a piora do desenvolvimento democrático em Angola, que no relatório de 2012 estava na posição 83.
"Reação histérica"
Ele chama Angola de o "grande perdedor" dentro do seu grupo. "Nós classificamos Angola como uma autocracia moderada. Por que fazemos isso? Uma das razões é que as últimas eleições não foram livres e justas", explica.
Para Schmidt, Angola é um país difícil de ser avaliado. "Nosso examinador em Angola afirma que as eleições não foram livres. Angola foi o grande perdedor do ranking e o clima é menos liberal que anteriormente”, salienta.
A forte repressão das manifestações em Angola também contribuiu para a piora do seu desenvolvimento democrático.
Conforme a pesquisa, tanto em Angola como em Moçambique houve protestos nos últimos tempos e o regime em Angola, principalmente, reagiu de modo completamente exagerado, "praticamente histérico", conforme Schimidt.
"Ficou uma impressão de que poderia ocorrer como nos países do Norte da África. Tentou-se rapidamente reprimir tais movimentos, agiu-se rapidamente contra os direitos da sociedade civil”, lembra.
Movimento tímido
No relatório de 2014, a instituição chega à conclusão de que desigualdade social e pobreza permanecem nos 129 países em análise, mas, por outro lado, identifica-se uma sociedade civil mais consciente e maior resistência à corrupção e má administração. No caso de Angola e Moçambique, no entanto, Schmidt ainda não vê a formação de um forte movimento popular.
O pesquisador explica que os regimes ficam receosos e temem que esses protestos tornem-se um movimento popular, difícil de controlar. "Pelos índices da Bertelsmann, eu não vejo nenhum indício de formação de um movimento popular. O controle é muito forte", explica Schmidt.
Ele salienta que, em Moçambique, há sempre o trauma da guerra civil, em Angola também parcialmente. As pessoas estariam insatisfeitas com o sistema, mas, ao mesmo tempo, não querem mais instabilidade e violência.
"Isso gera uma posição de distanciamento quando se fala em organização das massas e protestos”, destaca. Outro fator importante apontado pelo índice é de que a capacidade para administrar conflitos nos 129 países piorou.
Conforme o diretor de proejtos da Fundação Bertelsmann, Hauke Hartmanna, é preciso perguntar-se qual forma de diálogo democrático que se quer para o futuro. "Por um lado, dar o espaço necessário aos legítimos protestos da sociedade civil sem danificar as instituições democráticas", opina.