Moçambique: Ministro alerta jovens para falsos empregos
9 de janeiro de 2023O ministro da Defesa de Moçambique pediu hoje que os jovens "não se deixem enganar" por falsas promessas de emprego, alertando que os "enganados" estão a morrer em Cabo Delgado, província aterrorizada por ataques armados há cinco anos.
"Jovens não se deixem enganar. Muitos dos nossos irmãos enganados estão a morrer em Cabo Delgado vítimas da guerra porque acreditaram que iam ter emprego", disse Cristóvão Chume, durante a cerimónia de lançamento do recenseamento militar em Malema, na província de Nampula, norte de Moçambique.
Segundo o governante, os jovens enganados com promessas de emprego "estão a ser levados para Cabo Delgado para fazerem parte dos terroristas" e chegados à província são "obrigados a matar e a destruir o património" moçambicano.
O ministro da Defesa de Moçambique pediu ainda que os jovens adiram ao recenseamento militar, que decorre desde terça-feira e até 28 de fevereiro, referindo que é da sua responsabilidade defender a "soberania e integridade territorial".
"Não esperem que venham cidadãos de outras nações para defenderem a nossa soberania e integridade territorial porque o país é nosso", frisou Cristóvão Chume.
O Ministério da Defesa de Moçambique espera recensear 221.140 jovens este ano, mais do que os 220 mil recenseados em 2022.
Vontade de travar insurgência leva jovens às filas do recenseamento militar
Osmane Lourenço, 22 anos, juntou-se à longa fila de jovens que se querem recensear para o serviço militar em Cabo Delgado com uma única missão: entrar nas Forças Armadas para combater os rebeldes que devastaram a sua terra natal.
"Eu quero encarar estes tipos, eles fizeram-me sair da minha terra sem qualquer razão lógica", explica à Lusa Osmane Lourenço, no meio de dezenas de jovens que se querem recensear.
São 07:00 e Osmane está entre os primeiros da longa fila que marcou o arranque do recenseamento militar em Mieze, no distrito de Metuge, a 25 quilómetros da capital provincial de Cabo Delgado (Pemba).
Osmane Lourenço lembra com dor sobre a "barbaridade" das incursões rebeldes que obrigaram a fugir de Macomia há dois anos e, hoje, vivendo como deslocado em Metuge, a ambição é voltar para casa, mesmo que para isso tenha de pessoalmente pegar em armas.
"Eu quero voltar para lutar pela minha terra”, frisa o jovem visivelmente de revoltado como uma guerra "sem fundamentos plausíveis".
Não muito longe de Osmane, Martina Simão, 19 anos, prepara o seu bilhete identidade porque é a próxima da fila e, embora se considere motivada, não esconde algum receio, caso seja uma das alistadas.
Durante a cerimónia de lançamento do recenseamento em Metuge, o secretário de Estado de Cabo Delgado lembrou que a província é a terra dos "heróis", em alusão ao facto de ter sido a província em que a luta de libertação colonial começou em 25 de setembro de 1964, com ataque a uma posição das Forças Armadas portuguesas no Posto Administrativo de Chai, em Macomia.
"Cabo Delgado é terra dos combatentes, de heróis, de valentes nacionalistas e o berço da luta de libertação nacional. Aspiramos continuar a gerar combatentes pela paz e pelo desenvolvimento”, disse António Supeia.