Praia do Wimbe dividida quanto ao impacto do turismo
15 de setembro de 2018Com 12 quilómetros de costa, a praia do Wimbe é o cartão-de-visita da chamada terceira maior baia do mundo, a Baia de Pemba, na província de Cabo Delgado. Aqui, as praias paradisíacas combinam a beleza da areia fina branca com a água cristalina e palmeiras autóctones. O clima convida ao mergulho e desfruto da gastronomia local.
Se por um lado a visita de turistas à praia do Wimbe, em Pemba, constitui uma oportunidade de negócio para os agentes económicos na zona, por outro é um pesado fardo para os residentes. Os habitantes do bairro Eduardo Mondlane, onde se localiza a zona turística, reclamam do custo de vida a que estão sujeitos devido à subida dos preços dos produtos.
Estes atributos conferem à praia do Wimbe o estatuto de um dos locais turísticos mais procurados em Moçambique por turistas e funcionários de organizações nacionais e estrangeiras, o que se traduz também na criação de um terreno fértil para o desenvolvimento de negócios por parte dos operadores turísticos. Humberto Nazaré, gerente de uma das estâncias a operar na zona há mais de 20 anos, descreve as visitas à praia do Wimbe como "importantes”, pois constituem o estímulo para o crescimento da sua empresa.
"Temos visitantes. Recebemos muita gente de fora e nacionais. Mas as organizações que cá estão sedeadas é que são o forte do movimento que temos no nosso estabelecimento”, frisa.
A opinião é partilhada por Henriques Rodrigues, outro operador de um estabelecimento na praia do Wimbe. "É vantajoso [praticar atividade comercial], porque aqui é como se fosse o cartão-de-visita da praia do Wimbe. Todo o turista que chega tem de visitar a praia do Wimbe. E tem muitos ganhos. O cliente quando chega aqui quer comer camarão, peixe, a comida de Cabo Delgado e, pronto, também temos alguns artesãos que vendem peças”.
O reverso da medalha
Apesar das vantagens que o turismo trouxe para a região, os locais também estão a sentir o reverso da medalha: se por um lado existem muitas oportunidades de negócio, por outro há um sentimento de sufoco por parte dos habitantes que lamentam o aumento do custo de vida em Pemba.
Os residentes das zonas circunvizinhas da praia do Wimbe dizem não ser concebível que produtos adquiridos localmente, principalmente o pescado, estejam a ser comercializados a preços considerados "inacessíveis”.
"Antes conseguíamos com 50 meticais [cerca de 0,70 euros] comprar peixe e comer. Mas agora, mesmo que sejam peixinhos, já não se consegue comprar nada com esse dinheiro”, comenta Abdul Gafur Selimane, que reside junto à praia de Wimba.
"O peixe aqui está muito caro, por isso tenho que me dirigir à praia em busca de moluscos para alimentar a família, uma vez que sou solteira”, diz Baina Imamo. "As coisas estão mesmo inacessíveis. A alternativa é verduras ou feijão cute”, acrescenta,
Turistas são quem mais beneficia
O sociólogo e docente universitário Abílio Lázaro Mandlate destaca que o "turismo tem oferecido uma grande oportunidade para o desenvolvimento de atividades económicas, particularmente na praia do Wimbe”.
"Infelizmente o que temos visto é que quem mais aproveita essas potencialidades são indivíduos que vêm do estrangeiro. Existe aquela perceção de que os estrangeiros têm poder de compra e, uma vez tendo o poder de compra, aqueles indivíduos que fornecem bens e serviços nas áreas turísticas mais frequentadas acabam por vender esses serviços a preços que só realmente eles podem pagar”, explica.
Como solução para o problema, o sociólogo salienta que é "necessário que o país se posicione no sentido de fazer do turismo uma atividade economicamente rentável, não só para aqueles indivíduos que fornecem os serviços, mas também viável para os turistas nacionais”.