Moçambique: Se pagar tem bom parto, se não fica para trás
7 de junho de 2017As parturientes dizem que são obrigadas a colocar na sua ficha médica um valor entre 200 e 500 meticais (entre três e oito euros) – se não, não lhes dão atenção na hora do parto.
"O que as parteiras estão a fazer, nestes últimos dias, não é boa coisa. Você, sem dinheiro na sua ficha, morre no hospital. Já presenciei, numa das unidades sanitárias, que um bebé morreu, porque a mãe não trazia o valor para o suborno", conta a parturiente Rosalina Calção.
A associação Sucesso Manica fez um inquérito durante dois meses e constatou vários casos de suborno nas unidades sanitárias. "Estamos preocupados com o nível de suborno nas unidades sanitárias. O cidadão acaba colocando o valor na ficha para ter um atendimento saudável, o que não pode acontecer, porque o servidor público recebe salário", denuncia John Chekwa, diretor da associação "Sucesso Manica" que promove os direitos humanos, boa governação e cidadania.
John Chekwa pede aos cidadãos que estejam atentos. "A associação e os seus parceiros estão a contribuir para eliminar ou minimizar o problema. Nós vamos continuar a sensibilizar a população para saber os seus direitos, a fim de combater este fenómeno", acrescenta o diretor da associação Sucesso Manica.
Lesados devem denunciar
A Procuradoria provincial de Manica reconhece que há focos de suborno e extorsão nas unidades sanitárias e critica a prática. "É preciso uma mudança de consciência, porque a pessoa deve saber que não pode meter dinheiro na ficha para poder ter um bom atendimento. É um direito que tem, é dever do enfermeiro, é dever da parteira cuidar bem do doente e não é um favor que estão a fazer. Por isso, não deve pagar nada", afirma o procurador provincial de Manica, Remigi Guiamba, que apela à denúncia de casos.
Também Horácio Francisco, da Direção de Saúde de Manica, recomenda às vítimas que encaminhem as denúncias sobre casos do género às estruturas competentes nas unidades sanitárias. "Se isso acontece, não pode ser generalizado como uma prática do centro de saúde, mas sim o comportamento de um certo indivíduo. Face a isso, há uma necessidade dos lesados denunciarem, porque se não denunciarem será difícil ultrapassar e corrigir este mal", afirma Horácio Francisco.
O governador de Manica, Alberto Ricardo Mondlane, pede para que se atue rapidamente. "Exigimos a todos dirigentes, aos vários níveis da estrutura organizativa do setor de saúde, que estanquem urgentemente as práticas de pessoas sem escrúpulos que entram no setor de saúde sem vocação e sem interesse de servir os seus pacientes", critica o governador.