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Moçambique: Regresso de Mondlane rodeado de incertezas

6 de janeiro de 2025

Venâncio Mondlane anunciou no domingo o seu regresso ao país no dia 09 de janeiro. À DW, analistas falam de incertezas sobre o futuro das manifestações e desconfiam de um possível acordo entre Mondlane e o Governo.

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Venâncio Mondlane
Venâncio Mondlane está em parte incerta há mais de dois mêsFoto: Alfredo Zungia/AFP

O anúncio do candidato suportado pelo Partido PODEMOS acontece depois de Mondlane ter se ausentado das redes sociais.

Antes, Venâncio Mondlane havia lançado concurso para a escolha de uma nova bandeira nacional e a "eleição popular" dos governadores e administradores distritais. 2 de janeiro era a data escolhida para o anúncio da nova fase das manifestações, intitulada "ponta de lança". Mas acabou por ser cancelado, alegando-se as "questões técnicas."

À DW, o jurista Ernesto Júnior diz que pode não ser bem assim. Júnior suspeita que Mondlane "possa já ter entrado em negociações diretas com o Governo e chegou a um acordo", que, de acordo com o analista, "ainda não pode revelar".

O jurista estranha que na comunicação feita no domingo (05.01), Mondlane não tenha voltado a falar do assunto da bandeira e das eleições populares nas províncias.

Apoiantes de Mondlane nas manifestações em Maputo
Mondlane apela os seus simpatizantes para que o recebam em massa no Aeroporto Internacional de MaputoFoto: ALFREDO ZUNIGA/AFP

O anunciado regresso de Venâncio Mondlane está envolto num manto de incertezas. É que, Mondlane havia prometido regressar ao país, no dia 07 de novembro de 2024, mas acabou por cancelar a viagem. 

O jornalista e escritor moçambicano, Sérgio Raimundo, nota também que no direto que fez nas redes sociais, Mondlane não mostrou segurança ao anunciar o seu regresso à Moçambique.

"E também não sabemos o que vai acontecer na dita receção calorosa no país", salienta Raimundo.

Processo judiciais

Contra Venâncio Mondlane existem vários processos judiciais, um dos quais exigindo uma indemnização de 1,5 milhões de euros pelos prejuízos nos protestos de contestação aos resultados eleitorais.

O jurista Ernesto Júnior advoga que pode ser que o político ainda "não tenha garantias de que não pode ser preso, por isso, convocou os seus membros e simpatizantes para irem ao aeroporto".

Procuradoria Geral de Moçambique
A Procuradoria Geral da República de Moçambique (PGR) emitiu vários processos contra o candidato presidencial Venâncio MondlaneFoto: Roberto Paquete/DW

Na sua transmissão ao vivo nas redes sociais, Venâncio Mondlane deu o "peito às balas". Justificou que o seu regresso ao país é para acabar com as matanças.

"Se andam a matar os meus irmãos, então estarei presente. Se querem assassinar-me, assassinem. Se querem pretendem-me, prendam", declarou Mondlane. O político acrescentou ainda que "o meu corpo está à disposição. A única coisa que eu sei é que a minha luta nunca vai morrer".

Regresso seguro

O vice-presidente Assembleia da República de Portugal, Rodrigo Saraiva, da Iniciativa Liberal (IL), pediu hoje pressão do Governo português para regresso seguro de Venâncio Mondlane à Moçambique.

No entanto, a concretizar-se este regresso, nas vésperas da tomada de posse de Daniel Chapo, candidato declarado vencedor, isso levanta uma preocupação de incerteza no país, sublinha Sérgio Raimundo.

"Incerteza total sobre as manifestações. Não sabemos se com o regresso de Venâncio vão cessar ou vão continuar", perspetivou o escritor.

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Raimundo diz ainda que "não sabemos se esse regresso é para as negociações com o Governo", ou ainda para "se desfazer do acordo com o PODEMOS".

Tomada de posse?

Ernesto Júnior puxa para o outro ângulo de análise. Desconfia que Venâncio Mondlane possa estar a ir concretizar a promessa de tomar posse no dia 15 de janeiro. A ser verdade "teremos dois Governos: o Governo oficial liderado por Daniel Chapo e o Governo popular liderado por Mondlane e as massas", acrescenta Júnior.

Aconteça o que acontecer, Moçambique deve voltar à estabilidade. A esperança de Sérgio Raimundo é que no meio de tanta incerteza "surja uma vontade política de acabar com esse banho de sangue. Surja um meio termo para que o país volte à estabilidade".