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Moçambique: Serviços com falta de sangue em Nampula

Sitoi Lutxeque (Nampula)
27 de dezembro de 2024

Grande parte dos serviços do Hospital Central de Nampula funciona a meio gás por conta das manifestações. Há défice de sangue para atender os doentes. Cidadãos estão preocupados.

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Hospital Central de Nampula (HCN) - Moçambique
Por causa das manifestações, aumenta a pressão no Hospital Central de Nampula (HCN), o maior e principal estabelecimento hospitalar do norte de MoçambiqueFoto: Sitoi Lutxeque/DW

Há escassez de sangue no Hospital Central de Nampula (HCN), o maior e principal estabelecimento hospitalar do norte de Moçambique. Preocupados com a atual realidade do país, os cidadãos já denunciam venda de sangue.

A situação agravou-se nos últimos tempos com o escalar da violência pós-eleitoral, afetando, por exemplo, Fátima Joaquim que tem um familiar internado neste hospital, a necessitar de sangue na sequência de uma cirurgia.

"Trago o meu familiar que precisa de sangue, mas não tem sangue a nível do hospital”, informa, dando conta do pedido de responsáveis da referida unidade para se fazer doação do precioso líquido destinado a salvar vidas. "Estão a pedir que possamos doar sangue, [mas] nós não temos pessoas preparadas com o grupo sanguíneo dele para doar”, disse.

No meio de tanta aflição, há profissionais que se aproveitam da situação para vender sangue, segundo revelou Fátima Joaquim. Ela contou em tom de lamentação que foi interpelada por um dos profissionais, afeto ao Banco de Sangue, para "negociar” a venda.

Hospital Central de Nampula (HCN), Moçambique
A direção do hospital queixa-se da falta de profissionais de saúde para ajudar a salvar vidasFoto: Sitoi Lutxeque/DW

"Apareceu alguém, um funcionário da unidade sanitária, que nos disse que pode arranjar sangue, mas em troca de um valor [em dinheiro]”, denunciou. Mas, Fátima questionou, sem outra saída: "sem sangue não há vida e precisamos do mesmo para dar o nosso paciente. O que vamos fazer?”.

Apelo à doação de sangue

A direção do hospital deu a conhecer que, até a última quarta-feira, a unidade dispunha de 70 unidades de sangue, quantidade abaixo do mínimo estipulado, que são 200 unidades.

Cachimo Mulina, diretor-geral do hospital, não comenta a suposta venda de sangue, mas confirma a escassez daquele líquido vital. Mulina revela que aumenta cada vez mais a pressão sobre o hospital devido à demanda.

"O nosso banco de sangue, a cada minuto que passa, vai se ressentindo. Então a quantidade de sangue que temos neste momento é muito pouca”, disse Mulina. "O apelo é para toda a população de boa-fé que chegue ao Hospital Central para poder contribuir doando sangue, porque vamos sempre recebendo doentes que vão necessitar desse líquido vital”, exortou.

Corpos expostos no chão

Segundo Cachimo Mulina, a tensão pós-eleitoral está a afetar quase todos os serviços por conta da ausência forçada de funcionários do hospital. "O pessoal que tem de cobrir tudo isto está a diminuir cada vez mais, porque há pessoas que tiveram que ficar nas suas casas. Era muito difícil circular, porque não havia lugar por onde passar para chegar ao hospital”, disse o responsável.

Diretor do Hospital Central de Nampula (HCN), Moçambique
O diretor do hospital, Cachimo Mulina, diz que a tensão pós-eleitoral está a afetar quase todos os serviços, situação agravada com a falta de sangue para atender os casos mais urgentesFoto: Sitoi Lutxeque/DW

O diretor do hospital aproveitou para deixar um apelo aos manifestantes. "Pedimos para que deixem passar nas vias públicas os meios de transportes que são utilizados para ir buscar os colegas e qualquer doente'', exortou.

De igual modo, a morgue do hospital está sob pressão e com pouca capacidade para acolher corpos, segundo informou Mulina. Com capacidade para receber e conservar 30 corpos, a morgue alberga agora mais de 40. Entretanto, devido a este facto, a DW apurou existirem muitos corpos expostos no chão da morgue.

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