Moçambique: Transportadoras sofrem prejuízos com confrontos
10 de março de 2016É cada vez mais difícil fazer transporte de carga e passageiros em algumas das principais estradas de Moçambique, desde que se intensificaram os ataques da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
Viaturas de transporte de passageiros têm sido alvos de ataques e vários empresários viram os seus autocarros queimados ou parcialmente destruídos por projéteis. Os prejuízos dos empresários desde o início dos ataques, em 2013, estimam-se em dois milhões de dólares e alguns ameaçam fechar portas.
"No conflito de há dois anos sofremos muitos prejuízos, que rondam os dois milhões de dólares, nomeadamente em pneus e vidros", diz Mussagy Goupal, empresário da área dos transportes. "Todo o povo, toda a gente, empresas e associações clamam pela paz. E os únicos beligerantes são o Estado e a RENAMO. O meu apelo é de que encontrem uma forma de dialogar e pormos um ponto final a esta situação que, de certa forma, prejudica o país", apela Goupal.
A Federação Moçambicana dos Transportes Rodoviários (Fematro) fez o mesmo apelo esta quarta-feira (09.03), em conferência de imprensa. "Temos empresas que perderam autocarros e motoristas e viram os seus passageiros serem vítimas de balas. Apelamos a que o Governo e a RENAMO cheguem a um consenso e ponham fim à tensão nas estradas moçambicanas", afirmou o presidente da Fematro, Castigo Nhamane.
Esta conferência foi realizada na sequência do anúncio de várias empresas de transporte moçambicanas de que iriam paralisar a sua atividade, de modo a evitar ataques.
A Fematro não quantifica os prejuízos dos seus associados, e adianta que o seu objetivo não é apelar a uma paralisação geral da atividade. "O objetivo não é parar de transportar passageiros por causa da tensão", enfatizou o presidente da Federação.
Várias transportadoras que fazem a ligação entre Nampula e o centro e o sul do país já suspenderam as suas atividades devido aos confrontos. A procura por parte dos passageiros no terminal de Maputo diminuiu e as empresas que não suspenderam a sua atividade estão a realizar as viagens com poucos passageiros, tal como é o caso da empresa de Adamo Cassamo.
"Nem todos têm condições de ir de avião. Então procuram-nos, que é para poderem ir para os seus destinos. E se nós ficarmos parados [a situação] fica complicada. Por parte dos passageiros há uma fraca [procura]…as pessoas não vão à procura de transporte por causa da situação que está a ocorrer agora. Mas nós estamos aqui a fazer o nosso trabalho", afirma o empresário.
Emboscadas atribuídas à RENAMO em várias estradas do centro de Moçambique levaram as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas a montar escoltas militares obrigatórias para viaturas civis em dois troços da N1, a principal estrada do país, na província de Sofala.
Diálogo entre Governo e RENAMO continua bloqueado
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, dirigiu na sexta-feira (04.03) um convite a Afonso Dhlakama, líder da RENAMO, para a retoma do diálogo, pedindo "máxima urgência" na designação dos seus representantes para preparar um encontro ao mais alto nível.
Na resposta, o líder do maior partido da oposição concordou com o reatamento do diálogo, mas continua a impor a sua mediação pelo Governo da África do Sul, União Europeia e Igreja Católica, de modo a "evitar os acontecimentos do passado".
Numa conferência de imprensa realizada ontem (09.03) em Lisboa, durante a tomada de posse do novo Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, Filipe Nyusi referiu que o diálogo com a RENAMO "deve acontecer naturalmente e para isso escolhemos uma equipa encarregue de preparar o encontro com Afonso Dhlakama".