Moçambique: Venâncio Mondlane sai da RENAMO e do Parlamento
3 de junho de 2024Venâncio Mondlane, deputado pela bancada parlamentar da Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO), apresentou esta segunda-feira (03.06) um pedido de renúncia do seu mandato.
A decisão surge "em consequência de uma tomada de consciência profunda da necessidade de busca de meios mais eficientes" e de uma "atmosfera política propícia para continuar o seu combate em defesa da democracia plena e na luta para o livre exercício dos deveres patrióticos", alegou o político moçambicano.
Ainda nesta segunda-feira, "após reflexão aprofundada", Mondlane escreveu ao secretário-geral do maior partido da oposição moçambicana a anunciar que renuncia à qualidade de membro da RENAMO, ao qual se juntou em 2018, concluindo que "deve buscar meios alternativos para continuar a promover a ética, princípios e valores duma democracia plena."
Na sequência da renúncia, o assessor jurídico de Mondlane, Elvino Dias, adiantou à DW quais os passos seguintes do político: "O engenheiro Mondlane está a colher assinaturas para se candidatar à Presidência da República, e a sua candidatura será suportada por um partido político que, em momento oportuno, iremos anunciar", disse Dias.
Decisão não surpreende RENAMO
A decisão de Venâncio Mondlane não preocupa a RENAMO, comenta Arnaldo Chalaua, deputado e presidente do Conselho Jurisdicional do partido. "A RENAMO não está preocupada, porque a entrada de membros no partido é livre, tal como a saída de membros da RENAMO é livre. O partido não aprisiona ninguém", justifica.
Antes de sair, Venâncio Mondlane pediu mudanças na RENAMO. Dentro e fora do partido, nas ruas e nos tribunais, Mondlane travou um braço-de-ferro contra a liderança da RENAMO. O presidente Ossufo Momade acusou-o de minar o partido com "chantagens e agendas ocultas".
Arnaldo Chalaua chama a Venâncio Mondlane, seu ex-colega e amigo, de fracassado: "A vitória é conquistada com alguém que, de facto, luta a nível interno até que o seu objetivo seja alcançado. Agora, aquele que abandona o barco é um fracassado, porque a fraqueza é para os que saem e os que ficam obviamente são fortes", afirma Chalaua.
"A RENAMO deu um tiro no próprio pé"
O analista político Ernesto Júnior acredita, no entanto, que a RENAMO poderá navegar em águas turbulentas sem Venâncio Mondlane entre os tripulantes do barco.
"Acho que a RENAMO deu um tiro no próprio pé. Isto vai enfraquecer a oposição em Moçambique, e a FRELIMO vai passear a sua classe, não porque é forte, mas por culpa dos seus adversários, que não conseguem se unir para tirar a FRELIMO do poder", defende.
Por outro lado, Ernesto Júnior antevê um futuro difícil para Mondlane, apesar do político granjear uma certa simpatia do eleitorado jovem.
"Nestas eleições que se avizinham [em outubro], dificilmente Venâncio Mondlane poderá brilhar. De forma isolada, será difícil. Ele terá um trabalho árduo, nos próximos anos, para ser visto como alguém capaz de se sobrepor aos grandes partidos", conclui o analista.
Artigo atualizado às 17h28 (UTC)