Robert Mugabe renunciou
21 de novembro de 2017Robert Mugabe já não é o Presidente do Zimbabué. O chefe de Estado de 93 anos, no poder desde 1980, renunciou ao cargo esta terça-feira. O anúncio foi feito pelo presidente do Parlamento, Jacob Mudenda, que leu a carta de demissão de Mugabe durante o debate de uma moção de censura contra o agora ex-governante.
"Eu, Robert Gabriel Mugabe (...) apresento formalmente a minha demissão de Presidente da República do Zimbabué, com efeitos imediatos", escreveu Mugabe na carta lida por Jacob Mudenda. "Demito-me voluntariamente. (...) Esta decisão foi motivada pelo (...) meu desejo de garantir uma transição do poder sem problemas, pacífica e não violenta", explicou ainda Mugabe.
As palavras foram recebidas com aplausos e vivas por parte dos deputados, que se encontravam reunidos desde o início da tarde para iniciar o processo de destituição do Presidente. “É um acontecimento histórico", disse um dos membros do Parlamento ouvido pela Associated Press.
"Temos muito a aprender com isto. O Presidente está preocupado com a paz e a segurança, os zimbabueanos estão preocupados com a paz e a segurança, todos queremos a mesma coisa: avançar e fazer do Zimbabué um grande país", acrescentou.
“Não me surpreende. Isto já se esperava há duas semanas. Foi o último prego no caixão. Ele fez muito por este país, merece descansar. É com certeza uma nova era para o Zimbabué”, disse outro deputado à agência de notícias.
População festeja na rua
A população recebeu com euforia o anúncio da resignação do Presidente, após quase quatro décadas na liderança desta nação africana.
Apesar de o país permanecer numa grave crise política desde a passada semana, quando os militares se rebelaram contra o chefe de Estado, a notícia chegou de surpresa. Gritos de alegria e buzinas de automóvel inundaram a capital, enquanto as pessoas se abraçavam espontaneamente na rua, segundo relatos das agências noticiosas internacionais.
Bandeiras do Zimbabué e gritos de "descanse em paz, descanse em paz" acompanhavam danças e cânticos, enquanto o sol descia sobra a capital zimbabueana.
Outras imagens mostravam crianças junto a tanques, e dançando ao som da música que ecoa pelas ruas da capital, Harare. Muitos populares também celebravam a intervenção do exército, que acelerou o afastamento de Mugabe.
Mnangagwa a Presidente?
Robert Mugabe vinha recusando todos os apelos nacionais e internacionais para abandonar o poder, mesmo depois de ter perdido a liderança do seu partido, a União Nacional Africana do Zimbabwe -- Frente Patriótica (ZANU-FP).
A atual crise política no Zimbabué começou quando os militares tomaram o controlo do país, depois de, na semana anterior, Mugabe, de 93 anos, ter despedido o seu vice-Presidente, Emmerson Mnangagwa. O ex-número dois assumiu o cargo de presidente do ZANU-PF e foi nomeado candidato às eleições presidenciais de 2018.
Segundo o líder da bancada parlamentar do partido no poder, Lovemore Matuke, Mnangagwa – que abandonou o país após a sua demissão – vai assumir a liderança do Zimbabué no prazo de 48 horas. Por sua vez, o presidente do Parlamento afirmou apenas que amanhã, quarta-feira, será nomeado o novo Presidente do país.
Futuro incerto
Quanto a Robert Mugabe, o futuro ainda é incerto, após a demissão. “É surpreendente, mas muitos zimbabueanos dizem ‘ele tem 93 anos, está nos últimos dias da sua vida, deixemos estar o passado’. Depois, há outros que consideram que Mugabe tem de sofrer as consequências, mas não querem arrastar um homem velho para o TPI – ‘deixem-no descansar em algum lado, mas não o queremos aqui no Zimbabué, porque ele lembra-nos aquilo que passámos’”, explica Joy Mabenge, coordenador regional para a África Austral da Coligação Crise no Zimbabué.
Entretanto, os Presidentes de Angola, João Lourenço, e da África do Sul, Jacob Zuma, anunciaram esta terça-feira – ainda antes da demissão de Mugabe - uma viagem amanhã, quarta-feira, até Harare, para avaliar a situação política no Zimbabué, como dirigentes da SADC.