Multinacional alemã estabelece-se em Angola e Moçambique
12 de novembro de 2014Muitas firmas alemãs consideram os riscos para os investimentos em África muito elevados e as dificuldades a superar no continente demasiado grandes. Mas entre algumas empresas mais afoitas cresce exponencialmente o interesse também pelos países africanos de expressão portuguesa. Assim, o gigante alemão de tecnologia e serviços, Bosch, presente na África do Sul há mais de um século, começa agora a descobrir o resto do continente. O representante da multinacional em África, Markus Thill, explica que a escolha incidiu sobre Angola e Moçambique porque: “Quando nos voltamos para a África austral, vemos que a população é jovem, as taxas de crescimento económico são elevadas, a riqueza em matérias-primas é muito grande: não há, pois, como ignorar Angola e Moçambique".
Falta de compreensão pelos medos das empresas alemãs
Markus Thill diz que tem "pouca" compreensão pelos receios das empresas alemãs em investir em África. Embora reconhecendo ser muito diferente de investir na Europa, o mesmo se aplica a qualquer continente, diz, pois as mentalidades e culturas divergem sempre. Há ainda o problema de entender os mercados, por não haver uma recolha sistemática de dados e estatísticas como existe, por exemplo, na Alemanha. Porém, é necessário adaptar-se a estas realidades, diz Thill, porque: "Para nós África é um continente com grande potencial. As dificuldades existem em todo o lado, mas há possibilidades em todo o lado, e agora muito especialmente em África".
Recentemente, um relatório do Banco Mundial constatou uma melhoria marcada pelo clima de negócios em Moçambique, graças a uma série de reformas levadas a cabo pelas autoridades de Maputo. O interesse da multinacional Bosch prova que as melhorias não passaram despercebidas aos investidores.
Planeamento a longo prazo
E nem a instabilidade política que Moçambique atravessou antes das eleições gerais em outubro, impediu a Bosch de abrir uma delegação no final de outubro: "Nós planeamos a longo prazo. Analisámos a situação dos países em que estamos presentes, que são todos relativamente estáveis. E decerto que não iríamos para lá se não víssemos os potenciais. Mesmo pessoalmente não tenho nenhumas reservas quanto à nossa presença em Angola e Moçambique", destaca Thill.
Para já, a Bosch planeia manter apenas pequenas representações nas capitais, Luanda e Maputo, que poderão ser alargadas, caso o desenvolvimento nos mercados seja propício, afirma o responsável da firma pelo continente em conversa com a DW África: "Basicamente pode dizer-se que um dos objectivos da nossa presença em África é contribuir com os nossos produtos e serviços para um aumento da qualidade de vida da população".
Mais fábricas em África?
Markus Thill acrescenta que a Bosch não tem planos concretos para abrir unidades de produção em África, para além das duas que existem na África do Sul. Mas a empresa estuda a possibilidade de deslocar mais produção para o continente. E não exclui, à partida, como futura localização, qualquer dos países em que se encontra presentemente. Mas, para já, em Angola e Moçambique a Bosch concentra-se na venda de produtos como peças sobressalentes para viaturas, conceitos para oficinas mecânicas e técnicas de segurança. Também a transferência de conhecimentos é uma componente importante da presença nestes países lusófonos, e a empresa tenciona oferecer, por exemplo, formações para mecânicos.
Segundo informações prestadas pela própria, a Bosch tem cerca de 281 000 empregados em cerca de 150 países e faturou mais de 46 mil milhões de euros em 2013. Em África, onde mantém 600 empregados, no ano passado (2013) o grupo faturou 340 milhões de euros.