Quelimane em busca de boas práticas ambientais em Bona
10 de junho de 2015No Fórum Global sobre Resiliência Urbana e Adaptação (08. a 10.06), a apresentação de Manuel de Araújo, o edil de Quelimane, província moçambicana da Zambézia, tem a ver com a adaptação, uma área que tem sido defendida pelos especialistas ambientais africanos. A DW entrevistou o edil moçambicano.
DW África: O que trouxe do seu Município para o fórum?
Manuel de Araújo (MA): Como Município de Quelimane viemos cá apresentar uma comunicação sobre a experiência da cidade de Quelimane na área de adaptação, a nossa visão e projetos que estamos a implementar para que, de facto, a cidade se proteja dos impactos das mudanças climáticas.
DW África: Já agora conte-nos os projetos do seu Município...
MA: Estamos a trabalhar num master plan, um plano global do Município. E, para que possamos ter esse plano, temos vários procedimentos que estamos a implementar neste momento. O primeiro com vista a reposição do mangal. A cidade de Quelimane encontra-se abaixo do nível médio das águas do mar, é uma zona pantanosa e sempre que chove sofremos os efeitos das cheias. Também essas cheias têm piorado nos últimos tempos devido ao facto de os munícipes de Quelimane usarem o mangal quer para lenha, quer para fazer carvão, ou então para construir as suas próprias habitações. E isso cria vários problemas sendo o primeiro, a questão da erosão. O rio vai-se sobrepondo às áreas reservadas a habitação e a ideia que temos é de repor esse mangal, recolhendo as sementes que nos meses de janeiro e fevereiro aparecem na região e fazendo a reposição, plantando essas sementes. Mas também temos um segundo método que é a reposição do mangal. E nessa zona do mangal, um projeto que vamos implementar é o início da atividade de exploração do mel, para que as pessoas que deixam de cortar as plantas do mangal tenham algum sustento.
DW África: E o que colheu de novo nesse Fórum Global que possa beneficiar o Município de Quelimane?
MA: Aqui (encontramos) alguns países que já tinham implementado alguns programas que estamos agora a desenvolver e, portanto, podemos colher da parte deles as experiências, quer negativas ou positivas. As negativas para evitarmos a repetição dos erros que já foram cometidos e as boas para podermos ampliar e melhorar o impacto desses projetos na cidade de Quelimane.
DW ÁFRICA: Sob o ponto de vista da presevação ambiental, o que tem feito o Município de Quelimane com vista a sensibilizar os munícipes?
MA: Um dos aspetos é a formação dos próprios munícipes, dando-lhes acesso à informação. Por exemplo, utilizamos as reuniões dos bairros. Mesmo agora estamos a construir uma casa no bairro de Icidua, que é uma das localidades que mais sofre com os efeitos das mudanças climáticas e das cheias. Agora que tivemos a cólera foi um dos bairros (mais afetados), porque há falta de água canalizada e saneamento e essas duas questões propiciam a eclosão (da cólera) e colocam o bairro de Icidua como um dos mais vulneráveis. Também no âmbito desse projeto criamos mapas de vulnerabilidade que indicam o nível de vulnerabilidade de cada bairro de Quelimane. Por outro lado, realizamos com a Universidade Eduardo Mondlane, em Quelimane, onde existe a Faculdade de Oceanografia e Ciências Marinhas, um inquérito num trabalho conjunto com os estudantes na zona de Icidua, para apurarmos os dados que nos têm permitido a formulação dessas políticas e projetos com vista a minimização do impacto ambiental.
DW África: Através dos media percebe-se que o Munícipio de Quelimane obedece a uma dinâmica de governação diferente dos outros municípios do país. Porque?
MA: Durante vários anos a cidade de Quelimane ficou literalmente esquecida, estava fora do comboio do desenvolvimento e uma nova equipa assumiu esse desafio. A ideia é fazer de Quelimane uma cidade com uma economia verde, uma cidade sustentável e que dialogue com outras cidades do mundo. Tivemos três fases, a primeira era de reorganização do Município, incluindo questões sobre transparência, gestão dos recursos humanos e financeiros e também dos próprios bens. Depois passamos por uma estratégia regional, que culminou no ano passado com a atribuição do prémio de boa governação na região austral de África à cidade de Quelimane. E neste momento estamos na terceira fase, a que chamamos de internacionalização da marca "Quelimane rumo aos bons sinais", porque queremos fazer de Quelimane uma cidade global que recebe inputs, mas também transmite as suas experiências a outras cidades.
DW África: Falou agora em internacionalização. Também se vê na imprensa alguns diplomatas que têm visitado Quelimane, inclusive fotos em que eles partilham das experiências quotidianas dos munícipes, por exemplo, andar de bicicleta consigo. Que interesse esses diplomatas têm manifestado em relação à Quelimane?
MA: Eles notam, modéstia à parte, que Quelimane está a ter uma nova dinâmica, que tem uma liderança jovem, aberta ao mundo, que interage. Acho que qualquer ser humano gosta de estar associado a questões de sucesso. Eles vêem essa nova dinâmica e querem fazer parte, ajudar. Por exemplo, o embaixador norte-americano esteve há duas semanas em Quelimane e uma das coisas que pediu foi para andar de bicicleta na cidade, porque estamos a valorizar a bicicleta. Há um tempo atrás, ela era vista como um meio de transporte de pobres, mas conseguimos transformar a bicicleta num meio saudável, em primeiro lugar, mas também num meio que não polui, do ponto de vista ambiental. Então, queremos incentivar o uso da bicicleta. Tiramos a bicicleta daquele estigma e colocamo-la ao lado das coisas certas que devem ser feitas.
Curta biografia de Manuel de Araújo
A autarquia de Quelimane é governada pelo edil do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Manuel de Araújo que nasceu a 11 de Outubro de 1970, em Quelimane, onde fez os seus estudos primários e secundários.Araújo estudou na Escola Primária de Coalane, anexa ao Centro de Formação de Professores Primários de Nicoadala, na Escola Secundária 25 de Junho, e na Escola Pré-Universitária 25 de Setembro, todas na cidade de Quelimane.
Fez o ensino superior no Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI) e nas Universidades do Zimbabué e Fort Hare (MPS), na Universidade de Londres (MSc SOAS) e na Universidade de East Anglia (PhD), no Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda do Norte. Leccionou na Escola Secundária 25 de Setembro, na Francisco Manyanga, no Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI), no Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique (ISCTEM), na Universidade Pedagógica (UP) e na Universidade A Politécnica, em Maputo.
Manuel de Araújo foi fundador da Associação dos Estudantes de Relações Internacionais, do Conselho Nacional da Juventude, do Conselho Juvenil para o Desenvolvimento do Voluntariado, da Fundação para o Desenvolvimento da Zambézia, da Associação Moçambicana no Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, e do Centro do Estudos Moçambicanos Internacionais (CEMO).