Músico guineense espera mais das relações Alemanha-Guiné-Bissau
11 de abril de 2013A DW África conversou com o pianista Mike Herting, diretor artístico das apresentações e com o músico Carlos Robalo, guineense que morou mais de 30 anos na Alemanha e é um dos idealizadores da parceria.
Ambos falaram sobre os preparativos e o que os músicos guineenses podem esperar desse encontro. Os mais de 20 profissionais envolvidos passarão pelo Senegal e pela Guiné-Bissau.
Uma ideia entre amigos
"A ideia de ir à Africa Ocidental com a Bundesjazzorchester nasceu há três anos. Tenho trabalhado com diversas pessoas nesse projeto e agora em maio, tudo isso se tornará realidade. Tínhamos planos de irmos também à Mauritânia e ao Mali, mas, no momento, não será possível. Na ilha senegalesa de Saint-Louis, daremos um workshop de 10 dias com músicos africanos. Entre eles estão Jeli Jabate que toca balafon e Ablaye Cissoko que toca corá, um instrumento africano de 21 cordas utilizada pelos "griots", os contadores de histórias. Com este programa, iremos à Guiné-Bissau", explica Mike Herting.
No país de língua portuguesa, os concertos estão marcados para acontecerem entre os dias 27 e 30 de maio. Mike Herting conta que na Guiné-Bissau haverá um concerto em frente ao Instituto Francês, do lado de fora.
"Também queremos nos apresentar na Ilha Bubaque. Mas nisso, ainda estamos trabalhando. Queremos ir a Tabatô, uma localidade onde moram principalmente músicos. Com eles, queremos trabalhar em parceria, tocar em conjunto", conta o pianista.
Ao ser questionado porque escolheu a Guiné Bissau, o alemão se mostrou bastante atraído pelo país. "Eu pessoalmente, tenho fortes laços com a Guiné-Bissau. Um dos meus melhores amigos é de lá. Carlos Robalo morou vários anos na Alemanha e é músico. Com a ajuda de outras pessoas, nós construímos uma escola na Guiné-Bissau. Esta já reuniu quase 300 alunos nos últimos 8 anos. Posso dizer que tenho raízes na Guiné-Bissau. E acredito que a Guiné-Bissau contribui bastante com sua música para a África Ocidental", destaca.
Abertos a outros músicos
A principal ideia do projeto é interagir. Se envolver com os músicos locais parece ser uma das razões dessa viagem. "Meu amigo Carlos Robalo pediu, por exemplo, para que eu preparasse os arranjos de uma peça de sua autoria que queremos tocar juntos. Outro músico que participará da orquestra é Justino Delgado, com o qual já toquei numa session, certa vez que estive na Guiné-Bissau. Durante a nossa estadia no país, estamos dispostos a fechar parcerias com outros músicos. Resumindo, estamos abertos a novos músicos", deixou claro Mike Herting.
Se houver interesse, os músicos da Orquestra da Alemanha podem dar oficinas musicais, sublinhou Mike Herting. "É tudo uma questão de combinarmos. Minha experiência anterior, nas viagens, permite-me dizer que essa forma de trabalho funciona muito bem."
Uma parceria que tem tudo para dar certo, devido a riqueza das diferentes nacionalidades, dá a entender Mike Herting. "A orquestra em si é composta somente por alemães, mas para este projeto convidamos músicos africanos, com os quais já ensaianos. Iremos a Bissau com pelo menos quatro músicos africanos. Lá, procuraremos por mais profissionais da música para trabalhar conosco."
As expectativas
O grupo da Alemanha também viajará alguns trechos de ônibus. Algumas regiões são áreas de conflito, principalmente no Senegal. Uma situação que obrigou os alemães a tomarem algumas precauções.
"Eu pessoalmente gostaria de passar por Casamança, no Senegal, já que vamos tocar em Kaolack que é praticamente na fronteira com Casamança. De lá, gostaríamos de continuar a viagem a Ziguinchor, onde tocaremos. Mas fomos alertados para não passar por terra neste trecho por causa da situação de insegurança. Por isso, iremos primeiro até Dacar e de lá, de avião para Ziguinchor, onde seremos buscados de ônibus para irmos a Guiné-Bissau", explica a rota, Mike Hertinger.
O amigo do alemão, o músico Carlos Robalo, também conversou com a DW África. Guineense, ele morou mais de 30 anos na Alemanha. Durante a entrevista, ele se mostrou orgulhoso de poder ser um dos organizadores dessa parceria entre a Guiné-Bissau e a Alemanha.
"Na Guiné-Bissau, temos tido pouco intercâmbio cultural com outros países. De forma que a vinda da Orquestra de Jazz da Alemanha vai ser um ponto alto no país. Como não há nada do gênero no território, eu penso que todos os músicos presentes em Bissau vão estar muito atentos ao trabalho dos colegas que vem da Alemanha", comenta Carlos Robalo.
A troca de impressões entre os músicos acontecerá durante os cinco dias em que a Orquestra estará na Guiné-Bissau, já que os concertos em si acontecerão em apenas dois dias, enfatiza Carlos Robalo. Para ele, os workshops são uma autêntica forma de transmitir conhecimento.
"Pessoalmente, espero que a partir desse encontro tenhamos mais ligação cultural com a Alemanha. Aqui, como temos escassez de tudo que diz respeito a cultura, por falta de meios, espero que tenhamos mais atenção por parte da Alemanha", acredita o guineense.
O programa na Guiné-Bissau conta com a parceria do Ministério da Cultura do país e com o apoio do Centro Cultural Franco Bissau Guineense.