“Não há pobreza no país” afirma Presidente da Guiné Equatorial
5 de fevereiro de 2014Com mais de 700 mil habitantes, a Guiné Equatorial é um dos países mais pequenos de África. A antiga colónia espanhola é considerada também um dos países mais fechados do continente, os jornalistas estrangeiros raramente recebem vistos de entrada.
Há anos que grupos de direitos humanos como a Amnistia Internacional criticam o governo do Presidente Teodoro Obiang Nguema, desde 1979 no poder na Guiné Equatorial. Acusam-no de intimidar e prender ativistas da oposição e defensores dos direitos humanos de forma arbitrária.
Com uma renda per capita de 24 mil dólares por ano, segundo dados do Banco Mundial - valor que corresponde à riqueza média da Arábia Saudita - a Guiné Equatorial é o país mais rico de África.
Em comparação aos outros países do continente, o número destaca-se ainda mais: é cerca de 25 vezes mais do que a renda per capita do Quénia e do Senegal, ou até mesmo 50 vezes mais do que a da Etiópia ou da Guiné-Bissau. Mas os vários biliões de receitas em dólares provenientes da exploração de petróleo e gás migram principalmente para os bolsos de uma pequena elite, denunciam organizações dos direitos humanos, como a Human Rights Watch.
No Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Organização das Nações Unidas, a Guiné Equatorial ocupa o lugar 136 entre 187 países. Grande parte da população vive na pobreza apesar do boom da economia.
Nesta segunda (03.02) e terça-feira (04.02), a Guiné Equatorial recebeu na sua capital, Malabo, delegações de 30 países que participaram do simpósio “Guiné Equatorial Emergente”, promovido pelo Governo para convidar aos investimentos que visam diversificar a economia do país, atualmente baseada e dependente da exploração de petróleo e gás.
Num ato inusitado, o Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo concedeu uma entrevista a quatro jornalistas da imprensa internacional, entre os quais a enviada especial da DW-África à Guiné Equatorial, Cristiane Vieira Teixeira.
Abertura a investimentos internacionais
O Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo começou a conversa com a imprensa declarando que o seu país está a abrir-se aos investimentos internacionais.
“Queremos que a Guiné Equatorial, quando terminar a época do petróleo, tenha fontes de rendimento de outros setores. A agricultura, a pecuária, a pesca, o turismo e outras fontes de produção que poderiam substituir o país depois do petróleo. O simpósio é para sensibilizar, animar as empresas e os homens de negócios estrangeiros para que acudam a Guiné Equatorial para ajudar-nos no desenvolvimento. Queremos receber o apoio internacional.”
DW África: Mas pensando na política internacional, qual seria atualmente o maior desafio da Guiné Equatorial?
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo (TONM): Outro espinho é precisamente a comunidade internacional que não quer compreender nenhum dos esforços que estamos fazendo no interior do país. Não dizemos que estamos desenvolvidos, mas creio que a Guiné Equatorial pode se vangloriar de estar melhor que muitos países africanos, inclusive creio que podemos chegar a ser referência para a possibilidade de desenvolvimento de outros países africanos. Porque África deve emergir.
DW África: Apesar de o português não ser uma língua oficial da Guiné Equatorial, o país tenta ingressar na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Porquê?
TONM: Nos aspectos linguístico e cultural, somos o único país do continente africano que fala espanhol e isso é negativo para nós porque não podemos nos comunicar com outros países africanos.
DW África: Mas quais seriam as afinidades entre o seu país e os países de língua portuguesa?
TONM: A Guiné Equatorial foi descoberta, segundo a História, por um português que se chamava Fernando Pó. Por acordos políticos entre Espanha e Portugal, transferiu-se a Guiné Equatorial para a Espanha. A economia desta ilha e do continente foi potencializada pelos portugueses, trouxeram emigrantes de Cabo Verde, São Tomé e Angola que começaram a difundir o idioma português na Guiné Equatorial e com a influência económica das empresas e sociedades portuguesas. Cremos que deveríamos reivindicar este aspecto cultural.
DW África: Portugal, no entanto, tem-se oposto à entrada da Guiné Equatorial na CPLP, justificando haver insuficiência na “qualidade da democracia”. O que pensa sobre isso?
TONM: Não creio que seja um aspecto político, por isso discordo da posição portuguesa. Se é uma organização, se a maior parte dos países-membros aceitou a Guiné Equatorial, creio que Portugal não tem razão de se opor. O português não é de Portugal. Hoje em dia, já é uma cultura mundial. Como se vão opor quando um país quer aderir a uma cultura?
DW África: Pensando agora no continente africano, qual seria, na sua opinião, o maior desafio para África atualmente?
TONM: África alcançou um nível bastante elevado do ponto de vista económico porque há muitos países africanos que mudaram o panorama de seu desenvolvimento. Outros países seguem o mesmo caminho, mas enfrentam problemas de instabilidade provocados pela ingerência dos agentes exógenos, inclusive também dos próprios africanos. Porque há muitos africanos que fazem ingerência nos assuntos de outros países. Mas creio que África necessita da solidariedade porque África está divida em blocos pelas influências das potências.
DW África: De que forma se poderia superar a imagem negativa que foi criada da Guiné Equatorial?
TONM: A publicação negativa que muitos meios fizeram da Guiné Equatorial devem ser montagens para dar uma má imagem do país. O que não entendo é que quando o país está a implementar programas importantes - desenvolvimento bastante positivo - se tenha que fazer frente a publicações negativas. Um jornalista que chega não se interessa por dizer algo das realizações do Governo - as estradas, as escolas, os centros educativos. Mas as publicações que faz são exclusivamente sobre o ambiente do bairro. O Governo tem um programa para superar todas essas dificuldades. De maneira que esse tipo de publicação não é objetiva.
DW África: E como avalia a própria imagem nos meios de comunicação internacionais?
TONM: Intitulam-me de ditador, supostamente. Não sei se o facto de haver um dirigente longevo no poder é o que chamam de ditadura. Mas nós temos a aceitação do povo da Guiné Equatorial porque um país que no passado foi o mais pobre do continente, e quase do mundo, hoje em dia é o terceiro ou quarto país do continente africano que tem um bom desenvolvimento. Mas as publicações internacionais não querem reconhecer o esforço que está a ser feito nesse país.
DW África: Organizações de direitos Humanos como a Human Rights Watch criticam o nível de desenvolvimento humano na Guiné Equatorial. Qual seria a sua resposta a essas críticas?
TONM: Eu aceito a parte negativa porque não se pode resolver tudo ao mesmo tempo. Se o país está a desenvolver-se, há-de tocar todos os setores. Creio que também o setor humano experimentou mudanças. Na educação, por exemplo, quando cheguei ao poder esse país não tinha seis quadros graduados nas universidades ou escolas técnicas. Hoje temos mais de mil quadros profissionais que estão a trabalhar no país.
DW África: Poderia falar-se também de mudanças no setor da saúde?
TONM: Evidentemente há dificuldades como há em todas as partes do mundo. Mas sem dúvidas a Guiné Equatorial conta com alguns hospitais de referência que não deixam nada a desejar a hospitais de países desenvolvidos. É um aspecto positivo. A Guiné Equatorial é líder na luta contra o paludismo, porque estamos a erradicar o paludismo.
DW África: Essas mesmas organizações de direitos humanos questionam a falta de liberdade de expressão no país. Como avalia esses posicionamentos?
TONM: Não posso certificar a posição das organizações internacionais que dizem que não existe liberdade de expressão na Guiné Equatorial. Entre aspas, “liberdade de expressão.” Expressão do interior ou do exterior? Porque creio que há aí uma total liberdade de expressão no interior do país pois os partidos políticos estão a fazer o proselitismo e nunca houve, digamos, repressão nesse aspecto. Creio que são campanhas que posso qualificar como sensacionalistas para manchar a imagem da Guiné Equatorial.
DW África: E o que tem a dizer sobre as estatísticas de pobreza na Guiné Equatorial?
TONM: As organizações falam em pobreza, mas eu diria que não há pobreza nesse país. Há o que qualifico como penúria. Penúria quer dizer que quando há falta de algo se está em penúria pela falta de algo que é necessário. Mas a pobreza não existe neste país. Às vezes acresdita-se que quando há uma pessoa pobre se trata da pobreza do país. Nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Espanha e na França há pobres. Mas falar em pobreza neste país não creio que possa ser uma informação objetiva.