Na Guiné-Bissau elefantes atacam aldeões em resultado da desflorestação
11 de junho de 2014Aissa Regalla, bióloga do Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas no país (IBAP) contou à agência Lusa que os elefantes chegam as aldeias fugindo do abate das florestas: "É uma questão de barulho mesmo, estão a fazer o corte com motosseras. É muito perturbador, então eles tentam evitar o caminho do barulho."
Ainda segundo a bióloga, o abate das florestas está a afastar elefantes das rotas de migração anuais no sul do país e a levá-los para as aldeias. Já há relatos de partilha de espaço entre pessoas e animais e até de tentativas de ataques aos aldeões.
Bocar Saide da ADECOL, Associação de defesa do ecossistema, conta-nos que
"no ano passado houve um elefante andando com o seu filho e chegou a 600 metros de uma tabanka de Buia, mas agora fugiram."
Mas este não foi o único caso, segundo Saide "veio outro elefante que está a andar de um lado para o outro, fugindo das motosseras, isso é muito agressivo, e eles começam a atacar as pessoas nas suas hortas de castanha de cajú."
Outras situações de risco aconteceram até com especialistas em florestas, conta o membro da ADECOL: "O director do parque de Cantanhez, o senhor Quebá, e alguns individuos, foram perseguidos por esse animal, por pouco matava essas pessoas."
Ecossistema em destruição
Casos destes são mais frequentes no sul da Guiné-Bissau, região de florestas e por isso fundamental para a sobrevivência dos elefantes. É que anualmente, de maio a novembro, alguns deles vão da Guiné Conacry para o sul da Guiné-Bissau fugindo de enchentes.
É no sul da Guiné-Bissau que se localizam os parques naturais de Cantanhez e Cufada, corredores da emigração dos elefantes. Mas também esta região não escapa ao abate de árvores.
Aissa Regala do IBAP relata alguns factos que indiciam mudanças e fala também da exposição a que estão sujeitos os aldeões por causa do abate das florestas: "Sempre que temos informações sobre a presença do elefante é através do caçador no mato, mas agora a comunidades já nos indicaram as zonas onde estão presentes, e é um pouco perigoso porque eles entram nas zonas onde as mulheres fazem o mpampam, e vão buscar o carvão "
Denúncias caem em saco roto
Relativamente ao abate desenfreado das florestas, várias denuncias tem sido feitas nos últimos tempos, principalmente pelos órgãos de comunicação social, mas nenhuma medida foi tomada para impedir a atividade desenfreada.
De acordo com a Lusa o IBAP já pediu à Direção-Geral de Florestas que tomasse uma medida, mas até agora ainda não obteve respostas e as motosserras continuam no terreno.
O negócio de exportação segue tranquilo e impune, de acordo com Bocar Saide da ADECOL, Ele diz que "há centenas de contentores, há dois dias na Guiné-Bissau viram barcos cheios de contentores, já estão a carregar, e há contentores espalados por todas as ruas da capital."
Boa parte da madeira que é cortada de forma indiscriminada é exportada para a China. Várias instituições, como por exemplo as Nações Unidas, tem denunciado e criticado a situação. Para além de estarem preocupadas com a destruição dos ecossistemas, consideram que a atividade não trás benefícios para o país.