Namíbia insiste que Alemanha deve reconhecer genocídio
9 de outubro de 2015Em diversas ocasiões, Norbert Lammert expressou o interesse da Alemanha numa parceria com o Governo namibiano com vista ao desenvolvimento do país. Durante a visita que fez à Namíbia esta semana, o presidente do Parlamento alemão afirmou que o país progrediu nos últimos 25 anos de independência, apresentando um dos mais estáveis sistemas políticos do continente africano.
Embora os namibianos tenham gostado de ouvir estas palavras, muitos deles estavam mais interessados na forma como Lammert iria lidar com a morte de milhares de pessoas das etnias herero e nama há mais de um século.
Em 1904, o então Governo do Sudoeste Africano Alemão emitiu uma ordem de extermínio racial contra as duas tribos. Quase 100 mil hereros e 10 mil namas morreram de fome e sede no deserto. Alguns foram mortos a tiro ou enforcados. Outros morreram em campos de concentração.
"Olho para a minha bisavó todos os dias: ela parece uma alemã, tem olhos verdes. E penso sempre quantas vezes terá ela sido violada, como é que ela se sentiu, será que alguém a ajudou", conta Festus Muundjua, descendente de vítimas herero.
É um dos namibianos que consideram que o Governo alemão deveria pagar indemnizações pelos actos brutais cometidos pelos soldados do regime colonial, incluindo violações. "Dizem-me que não devia sofrer, mas vou sofrer para sempre, até que esta ferida esteja curada".
Falta o reconhecimento oficial
Em 1985, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu a tentativa da Alemanha de exterminar os povos herero e nama como uma das primeiras tentativas de genocídio no século XX. Vários políticos alemães têm pedido desculpas pelos eventos, mas ainda não houve um reconhecimento oficial do genocídio.
Franz Wechslberger, descendente de alemães que vive na Namíbia há mais de 40 anos, quer que a Alemanha realize uma investigação a fundo aos eventos do passado. "Isto dura há mais de 100 anos e ninguém sabe o que aconteceu ao certo. Lammert tem de obter toda a documentação", defende.
Durante a sua visita, o presidente do Parlamento alemão admitiu pessoalmente a todos os namibianos que o massacre dos herero foi um genocídio. No entanto, a declaração não foi feita em nome do Governo da Alemanha.
"Pessoalmente, não sei se diria que sou obrigado, mas sim motivado a dizer que sim, sem dúvida, tendo em conta todos os eventos que tiveram lugar nessa altura e a nossa compreensão do que é um genocídio, foi um genocídio, ponto final", disse Norbert Lammert.
Discursando na capital da Namíbia, Windhoek, Lammert afirmou que em breve terão início negociações entre os dois Governos. As conversações, acrescentou, vão incluir eventos do passado para definir as parcerias do futuro.
Representantes de grupos de defesa dos herero e nama, na Alemanha e na Namíbia, têm estado a pressionar o Governo alemão para que este admita que foi cometido um genocídio. Os descendentes das vítimas esperam que esta visita possa impulsionar a evolução do processo e aumentar a expectativa de pagamento de indemnizações.