Nampula: Capulanas podem ajudar a indústria têxtil a renascer?
A capulana faz parte da identidade da mulher moçambicana, sendo utilizada em várias ocasiões. Na província de Nampula, cresce o número de vendedores informais e clientes, no entanto, os preços continuam a ‘‘disparar’’.
Capulana ‘‘aumenta’’ a beleza da mulher
A capulana conquistou, faz tempo, o coração de muitas das mulheres moçambicanas. Na província de Nampula, ela faz-se acompanhar por creme de mussiro na cara. E mesmo sem um sorriso, a beleza e as suas maravilhas falam por si. Nesta província nortenha de Moçambique, este tecido ganha ainda mais visibilidade em datas festivas entre os grupos de mulheres, mas não só.
Homens apaixonados pela capulana
Antigamente em Nampula, assim como noutros pontos do país, o uso de capulana era exclusivo das mulheres, mas agora o cenário mudou. Muitos homens também a usam. Mandam costurar camisas, fatos, pastas, calções, entre outros. Domingos Chico é um deles. ‘‘Na verdade, gosto muito de roupa de capulana porque além de me sair barato faço, faço o feitio que quiser, desde fatos a calções’’, explica.
Identidade moçambicana e africana
A capulana teve origem no continente asiático, só tendo chegado a África entre os séculos IX e X por meio de trocas comerciais entre os árabes e os povos que viviam no litoral do continente, com destaque para o Quénia, Mombaça e Ilha de Moçambique. Hoje, a capulana é um símbolo de identidade das mulheres moçambicanas. Há tanta adesão que há quem ache que ela surgiu em solo africano.
Muitos clientes. Apenas uma fábrica
Em Nampula, os vendedores de capulanas dizem que pouco usam os produtos fabricados pela Nova Texmoque, a única fábrica têxtil da província, por entenderem que os tecidos não têm qualidade. ‘‘[Os clientes] desprezam [estes tecidos] porque dizem que a tinta sai e perdem a cor com facilidade. As capulanas que revendo provêem da Ásia e da China’’, conta um revendedor à DW.
Pouco rendimento, dizem revendedores
A concorrência da capulana aumentou nos últimos anos, mas isso não beneficia os revendedores, sobretudo, os ‘‘retalhistas’’. Segundo contam à DW, atualmente as mulheres organizam-se em grupos par adquirir uma peça de capulana e dividem-na. ‘‘Entre 2000 e 2010, era normal num mês conseguir ganhar dez mil meticais, mas agora varia entre dois e três mil’’, lamenta, em entrevista à DW, um revendedor.
Fazer dinheiro a custa das artes em capulana
Já Geraldo Constantino Maneira, conhecido por Jahmwene, tem a sua galeria de artes no quintal do Museu Nacional de Etnologia de Nampula e diz que a costura é o seu sustento. A capulana é uma das matérias-primas que usa na produção de artigos. Faz muito dinheiro nas vésperas das festas. ‘‘Não faço roupa por acaso, faço roupa tipicamente artística e que marca pela diferença. Há mais solicitação".
Veste que ultrapassa as religiões
Inicialmente a capulana era usada frequentemente na região costeira desta província, sobretudo, por mulheres que professam a religião islâmica. Atualmente, e apesar de prevalência nesta região, as mulheres e homens do interior da província também a usam. Em festas religiosas, quer islâmicas, quer cristãs, as vestes têm como base a capulana.
Calçado para todos os gostos
A capulana não serve apenas para enrolar no corpo e deixar a mulher mais bonita e deslumbrante. Recorrendo a este tecido, existem artistas que, todos os dias, fazem várias decorações em calçados para diferentes idades e sexos.