NATO encerra intervenção militar na Líbia
31 de outubro de 2011A NATO oficializou nesta segunda-feira (31/10) o fim da intervenção na Líbia. Desde o fim de março, as aeronaves da aliança atlântica voaram sobre a Líbia 26 mil vezes. Os países da coalizão militar fizeram valer a zona de exclusão aérea, bombardearam arsenais militares e tropas leais Mouammar Kadhafi.
Dos 28 países da NATO, apenas 12 participaram da intervenção na Líbia, que foi encabeçada pela França, Grã-Bretanha e pelos Estados Unidos. A Alemanha não aprovou a investida e causou a irritação de outros membros da coalizão.
Durante os sete meses da missão, a NATO não registrou vítimas. Do lado líbio, ainda não se sabe quantas pessoas morreram ou ficaram feridas. O professor de política internacional na Universidade de Colônia, Thomas Jäger, disse que a missão da NATO na Líbia teve um preço diplomático alto demais para os países ocidentais.
Para a NATO, um sucesso
"Do ponto de vista militar, a NATO vê a missão militar como um sucesso. A missão militar terminou. Mas do ponto de vista político, tudo muda de figura. O resultado é misto". Para Jäger, a intervenção não mudou só a relação entre os países ocidentais, mas colocou os próprios países diante de graves problemas internos. Ele acredita que politicamente, a missão não foi terminada.
O professor disse que não ficaria surpreso se outros países começassem a se interessar pela Líbia, "mas com outra roupagem". A discussão atual indaga se um grupo de países liderado pelo Qatar poderia atuar na Líbia, destaca Jäger.
Segundo o professor, a resolução das Nações Unidas que autorizou a intervenção militar internacional na Líbia causou uma profunda ruptura entre os países que aprovaram a atividade militar e aqueles que se abstiveram, como Alemanha, China, Índia, Rússia, Brasil.
Divisão
Para ele, a União Europeia mais uma vez cometeu o erro de não falar a uma só voz sobre o conflito, não o conseguindo conduzir bem no plano interno. Mas, no que toca à Alemanha, o cientista político acha que a abstenção de Berlim na votação da resolução 1973 foi justificada.
“Ninguém sabia como ia acabar o conflito na Líbia. Ninguém sabia se a zona de exclusão aérea poderia ser concretizada da forma que foi. Para a NATO, o melhor cenário possível virou realidade. Ninguém sabia, por exemplo, se Kadhafi usaria as armas químicas de que dispunha, ou se ele ordenaria ataques terroristas em outros países".
Seja como for, Thomas Jäger considera que este foi apenas um dos problemas da ação militar ocidental. O outro reside no fato de as potênciais ocidentais Reino Unido, França e Estados Unidos falharam ao executar o mandato estipulado pela ONU, que autorizou “todas as medidas necessárias” para proteger a população civil líbia de abusos pelas tropas leais a Mouammar Kadhafi.
O cientista político alemão recorda que no dia 15 de abril, alguns jornais internacionais publicaram um artigo assinado pelo presidente norte-americano Barack Obama, pelo seu homólogo francês Nicolas Sarkozy e pelo primeiro-ministro britanico David Cameron. O artigo dizia: “Kadhafi deve partir para sempre”. Segundo Jäger, esta foi uma declaração de guerra que não foi formulada na resolução da ONU.
Autor: Pedro Varanda de CastroEdição: Bettina Riffel / Marcio Pessôa