Negociações entre Governo e RENAMO terminam em impasse
24 de junho de 2013Homens armados atacaram na manhã desta segunda-feira (24.06.) dois autocarros de passageiros e um camião na região de Muxúnguè, na província central moçambicana de Sofala. Na última quarta-feira (19.06.), a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), principal partido da oposição, tinha declarado a interdição da circulação de pessoas e bens na zona. Alegadamente, para impedir o transporte de material de guerra para o centro e norte do país e para alargar o perímetro de segurança na região da Gorongosa, onde se encontra o líder do partido, Afonso Dhlakama.
Não há notícias de vítimas nos ataques desta manhã. Já os ataques desta sexta-feira (21.06.) resultaram, de acordo com dados da polícia, em três mortos e cinco feridos, além de viaturas incendiadas. Neste momento, é apenas possível viajar entre Muxúnguè e o rio Save em colunas escoltadas por forças combinadas constituídas por militares e agentes da polícia.
Os ataques desta segunda-feira ocorreram poucas horas antes do início
de mais uma ronda negocial entre o Governo e a RENAMO. O encontro foi marcado por mais um impasse, o terceiro consecutivo, e girou em torno de matérias relacionadas com a revisão da Lei Eleitoral, uma exigência da RENAMO para que se realizem eleições autárquicas ainda este ano.
Falta consenso quanto à proposta para a Assembleia da República
José Pacheco, chefe da delegação do Governo, diz que o que a RENAMO pretende é “que haja um comando, ordenando a Assembleia da República para aceitar tudo o que a delegação da RENAMO traz pelo princípio de separação de poderes”.
A RENAMO acusa o Governo de ser responsável pelo impasse em que se encontram as negociações entre ambas as partes. Segundo Saimone Macuiane, chefe da delegação da RENAMO, o seu partido foi “à sessão de hoje disposto a fazer tudo para alcançar um consenso”. Macuiane diz que a formação política aceita “a exigência do Governo de que deveria ser a RENAMO a submeter a proposta à Assembleia da República”. No entanto, na sessão desta segunda-feira, não foi alcançado consenso quanto ao conteúdo da proposta a ser submetida.
Ataques dos últimos dias não foram debatidos
Ambas as delegações revelam que, durante o diálogo, não esteve sobre a mesa a questão dos ataques registados nos últimos dias contra alvos civis em Muxúngué, cuja autoria o Governo atribui à RENAMO, embora esta se recuse a falar sobre o assunto.
Os ataques têm sido associados a este partido da oposição, uma vez que os mesmos se seguiram a uma ameaça feita nesse sentido, na semana passada, pela própria RENAMO.
O brigadeiro Jerónimo Malagueta, o rosto da declaração, foi detido na
última sexta-feira (21.06.) e desde então membros e simpatizantes têm-se aglomerado em frente da esquadra, onde se encontra, para exigir a sua libertação.
Nesta segunda-feira, o Presidente da Associação Moçambicana dos Desmobilizados de Guerra, Hermínio dos Santos, juntou-se àquele grupo de manifestantes, exigindo que “a FRELIMO tire ainda hoje” o brigadeiro da cadeia.
O último fim-de-semana foi marcado, em várias cidades moçambicanas, por manifestações de repúdio contra a guerra.