Nigéria: que papel na CEDEAO?
27 de novembro de 2012A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) une 15 países da região, liderados tradicionalmente pela Nigéria. Mas o país tem problemas internos graves. No último domingo (25.11), pelo menos 11 pessoas foram mortas e 30 ficaram feridas num atentado suicida contra uma igreja, durante a celebração de uma missa, num quartel das Forças Armadas da Nigéria no estado de Kaduna, no Norte.
Mas este não é um caso isolado. No final de outubro, um atentado suicida semelhante, também em Kaduna, matou sete pessoas e feriu mais de cem numa outra igreja católica. Em junho, vários ataques contra igrejas que mataram pelo menos 50 pessoas foram reivindicados pela milícia islamita Boko Haram, que desestabiliza o país há cerca de 2 anos.
Dividida entre o Sul, onde predomina o cristianismo, e o Norte, maioritariamente muçulmano, a Nigéria tem muito que fazer por si própria. Anos de conflito violento com os separatistas no Delta do Níger, o terror islâmita da seita Boko Haram, no norte do país entre outros.
"Nigéria tem poder de liderança", diz especialista
O exército e as forças de segurança estão em atividade constante. Exatamente agora, que a CEDEAO é chamada a ter uma liderança forte para poder solucionar alguns conflitos, nomeadamente na Guiné-Bissau e no norte do Mali. Por exemplo, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental quer enviar 3 mil e 300 soldados para o norte do Mali, onde radicais islamitas assumiram o controlo da região.
A Nigéria, segundo o cientista político e especialista da CEDEAO, Jonathan Aremu, tem o poder de liderança. "Seja qual for a situação que está acontecendo", explica, "particularmente em relação à segurança no Delta do Níger, bem como o Boko Haram, no norte, ela não diminuiu de forma alguma a posição da Nigéria como líder de toda a comunidade da CEDEAO".
Economicamente, está correta a avaliação do nigeriano. Militarmente, a liderança já não funciona há muito tempo, de acordo com o especialista na Nigéria, o alemão Heinrich Bergstresser.
Liderança económica, exaustão militar
O exército, há anos em missões no exterior, como a da ONU em Darfur, estaria sobrecarregado com as tarefas policiais contra o Boko Haram no país. A Amnistia Internacional divulgou recentemente casos de arbitrariedade militar e brutalidade contra o própria população. Além disso, reportagens do jornal britânico The Guardian dão conta de que o Exército nigeriano não seria capaz de cumprir as mais fáceis missões no exterior.
"Esta é uma grande contradição: a constituição interna do Estado e a imagem exterior da Nigéria", considera Heinrich Bergstresser. Segundo o especialista, isto acontece "justamente neste nível militar".
"Eles reconhecem esta contradição e no momento se comportam relativamente cautelosos, sabendo que eles de fato já chegaram ao limite de suas possibilidades", avalia.
"Falta credibilidade moral para impôr liderança"
Renunciar à liderança é difícil para o gigante da África Ocidental. Este papel foi conquistado ao longo da história. A Nigéria fundou a CEDEAO em 1975, colocando a sede em sua própria capital, Abuja. Na década de 90, o país liderou a primeira missão militar da comunidade na guerra civil na Libéria. A economia nigeriana é mais forte que a de todos os outros 14 membros juntos. E Abuja paga dois terços do orçamento da CEDEAO.
Mas há dez anos que a Nigéria falha em credibilidade moral para fazer valer a sua pretensão de liderança na região, com os seus escândalos de corrupção e problemas sociais, destaca o especialista Bergstresser.
A incapacidade de desempenhar um papel importante ficou clara também nos conflitos na Costa do Marfim e no Togo. Assim, os países de língua francesa e inglesa membros da CEDEAO ainda se orientam pelas antigas potências coloniais. Bergstresser considera que "a contradição entre a francofonia e a anglofonia na África Ocidental tornou-se muito, muito clara nos últimos anos". "E a Nigéria", especifica, "ou a liderança nigeriana, já percebeu que a sua abordagem original, de conseguir ser um poder regional, pode ser cumprida“.
Autora: Philip Barth/Cristiane Vieira
Edição: Maria João Pinto/ António Rocha