Nigéria: um país vulnerável
16 de novembro de 2012Poucos nigerianos se sentem realmente nigerianos. No país mais populoso do continente africano pertence-se a uma etnia hausa, yoruba, ibo, a uma religião cristã ou muçulmana, ou é-se oriundo das cidades de Lagos, de Port Harcourt ou de Bauchi. Existem até debates sobre uma eventual divisão da Nigéria. As especulações sobre esse foram reforçadas pelos numerosos e recentes ataques do grupo terrorista islâmico Boko Haram.
Na escola evangélica de Sokoto acabou o intervalo. Trezentos alunos correm para as salas de aula. A escola é uma das poucas escolas cristãs no norte da Nigéria, uma região onde predomina o Islão, e os cristãos são uma pequena minoria. Jonathan Nyebe teve de se acostumar a esta realidade. Ele é pastor da igreja Evangelical Church of West Africa, de sigla ECWA, em Sokoto, e é oriundo do Estado de Benue, no centro da Nigéria, a cerca de 750 quilómetros. "Depois de três anos em Sokoto, adaptei-me um pouco. Estou-me a acostumar às pessoas aqui e aprendo a perceber as diferenças culturais, que são grandes", diz
Cristãos esquecidos pelo governo nigeriano
Jonathan Nyebe é um homem calmo. Descreve a sua nova morada com cuidado. Não quer provocar ninguém sendo cristão – ou seja, minoria – numa área dominada pelo grupo étnico Hausa. Apesar disso, a contenção do pastor evangélico dura poucos minutos. Responde com raiva à pergunta se se poderia construir uma nova igreja no centro de Sokoto. "Não, não, não, jamais. Em Sokoto, existe uma lei não escrita que diz que não há terreno disponível para uma igreja. Se a comunidade tem o dinheiro para a construção, não pode comprar a terra. Por outro lado, o governo permite a construção de mesquitas e paga aos Imãs com dinheiro dos cristãos. As igrejas não têm esse apoio do governo."
Há muitos anos, os cristãos no norte da Nigéria reclamam dessa "injustiça", já que os muçulmanos podem construir mesquitas sem maiores problemas no sul do país. Para o bispo católico de Sokotop, Matthew Hassan Kukah, o verdadeiro problema é outro. "O problema é que o governo na Nigéria nada faz por uma integração nacional. No norte, por exemplo, existe sempre um bairro de cristãos chamado Sabon Gari "Cidade Nova" – uma herança dos tempos coloniais. Considero isso muito infeliz"
Aproximação entre etnias é duvidosa
Segundo observadores, as hipóteses de uma aproximação entre etnias e religiões na Nigéria não são muito elevadas. O motivo? A actuação recorrente do grupo extremista islâmico Boko Haram, que quer introduzir um Estado islâmico com base na Sharia, lei islâmica. Desde 2010, o Boko Haram (que significa "a educação ocidental é pecado") terá morto pelo menos 1400 pessoas. Face à crescente violência muitos cristãos nigerianos não se sentem bem vindos no país.
Amaka Uzoh, vive em Kano, mas é originária do Delta do Níger, sente isso mesmo."Sempre dissemos: a Nigéria é um país. Mas agora vivemos noutra região. Aqui olham para nós de lado, aqui sentimos que a Nigéria não é una. Mas nós uma pátria para onde podemos voltar se eles não nos quiserem aqui". Esta observação é partilhada por Hussaini Abdu, directot da ONG Action Aid. Para este politólogo e crítico do regime nigeriano só existe uma explicação para o refúgio em estruturas religiosas e tribais. "As estruturas religiosas e tribais tornam cada vez mais importantes à medida que vamos experimentando mais dificuldades com o governo. Mas com outro governo, com um governo forte essas clivagens seriam facilmente ultrapassadas".
Divisão da Nigéria?
Mesmo quando supostos porta-vozes do Boko Haram destacam que lutam contra o governo nigeriano e não contra cristãos, muitos dos cristãos sentem que não são bem vindos no norte do país. Por isso, observadores pedem uma actuação mais forte do governo do presidente Goodluck Jonathan, que segundo os críticos parece não ser capaz de proteger a população de novos ataques. Exactamente por isso, no sul do país, a ideia de uma separação do norte da Nigéria parece estar a ganhar cada vez mais adeptos.
Mas o politólogo Hussaini Abdu acha que uma separação do país mais populoso da África é improvável. "Não vejo sinais de que a Nigéria esteja realmente a desmantelar-se. Mas vejo que o país está diante de um abismo e de grandes desafios. Não podemos negar isso. Mas não considero que o país se vá dividir – até porque essa divisão não é um processo racional, mas é ligado a sentimentos e a contextos específicos".
Autora: Katrin Gänsler/ Helena Ferro de Gouveia
Edição: António Rocha