Nigéria: Boko Haram semeia terror e tensão entre comunidades
14 de janeiro de 2017Mubi é segunda maior cidade do estado federado nigeriano de Adamawa e o centro económico da região. Reina uma grande azáfama e o trânsito é intenso. Se à primeira vista parece ser uma cidade como todas as outras, depressa o visitante nota os edifícios em ruínas na via principal. Durante a incursão do grupo extremista nigeriano Boko Haram, em 2014, os terroristas não se limitaram ao saque. Explodiram muitas construções.
Numa das numerosas igrejas da cidade, o pastor Shawulu Auta Ndahi prepara a missa. Nas cadeiras brancas de plástico estão sentadas cerca de 50 mulheres em trajes coloridos. As paredes ainda estão negras do fogo posto, mas o telhado foi renovado.
O pastor lembra-se bem da entrada em Mubi do Boko Haram, no dia 29 de outubro de 2014. Foi a correr buscar os filhos à escola e tentou fugir da cidade. Por todo o lado se ouviam tiros e explosões, conta. As crianças gritavam de medo. E de repente deparou-se com um grupo de combatentes.
"Penso que um anjo se sentou no meu lugar ao volante. Acelerei e eles saíram do caminho. Quando passei começaram a disparar contra nós. Temi que me acertassem nos pneus. Mas deus protegeu-nos", conta o pastor Shawulu Auta Ndahi, que fugiu para Yola, a capital de Adamawa.
O plano dos insurgentes era transformar Mubi, perto da fronteira com os Camarões e do estado federado nigeriano de Borno, em capital do califado auto-proclamado.
Muitos perderam quase tudo e não têm apoio
Duas semanas mais tarde, o exército reconquistou Mubi, mas o pastor só regressou três meses depois. A igreja tinha sido incendiada, a sua casa estava em ruínas, Ndahi perdeu tudo o que tinha. É uma experiência pela qual passou muita gente em Mubi.
Mas pelo menos os cristãos voltam agora a sentir-se em segurança, diz Anointing Bitrus, presidente da associação cristã CAN. Mas Bitrus queixa-se de que não recebem assistência das autoridades pelos danos materiais e psíquicos sofridos. "Não veio aqui um único rerpesentante do governo regional. Ninguém se encontrou connosco para nos apoiar. Ninguém”, protesta Bitrus.
Umas ruas mais adiante, o emir Abubakar Ahmadu recebe no seu palácio de betão cinzento os dignatários da sua região na habitual audiência de sexta-feira. Ahmadu defede que a situação em Mubi voltou ao normal. "Aqui em Mubi não há como reconhecer quem é cristão ou muçulmano, somos uma sociedade intacta. Há famílias onde um irmão é muçulmano e outro cristão. Não vamos entrar em guerra uns com os outros. Eu sou o emir de Mubo e trato todos por igual", diz Abubakar Ahmadu, que não vê problemas entre cristãos e muçulmanos.
Mas Ahmed Sajoh, ministro da Informação em Yola, não está tão descontraído. Ele próprio é da região e sabe que desde o assalto do Boko Haram cresceram as tensões entre as duas comunidades religiosas. O seu Governo trabalha com as autoridades religiosas para normalizar as relações. Sanjoh rejeita as queixas dos cristãos: "Penso que esperam que ajudemos financeiramente a reconstruir as igrejas. Nós queremos fazê-lo. Mas os nossos recursos são limitados", justifica o ministro.