Nigéria: Comissão eleitoral prolonga votação em dois estados
26 de fevereiro de 2023Em causa estão os estados de Cross River, no sudeste do país, e de Bayelsa, no sul. "Decidimos prologar este domingo a votação em Cross River, nomeadamente na zona da administração local de Bakassi", justifica, em comunicado o comissário eleitoral para este estado (sudeste do país), Gabriel Yomere, citado pelo jornal nigeriano Premium Times.
Também o comissário local do estado de Bayelsa (sul do país), Wilfred Ifoga, deu conta da decisão de prolongar para este domingo o prazo de votação, devido aos protestos dos eleitores pelas dificuldades em exercer o direito de voto.
No sábado (25.02), dia marcado para as eleições, os responsáveis da comissão eleitoral manifestaram a sua oposição a qualquer tipo de adiamento nas votações, mesmo com a existência de problemas técnicos e com a ameaça de violência.
Segundo adianta o Premium Times, a comissão eleitoral chegou mesmo a ameaçar cancelar os resultados eleitorais em partes do estado de Kogi (centro do país), citando o comissário local, na sequência de vários incidentes violentos na região este e oeste, com o roubo de boletins de voto.
Irregularidades
Também vários observadores do Centro para o Desenvolvimento e para a Inovação Jornalística da Nigéria e outros grupos da sociedade civil denunciaram "práticas constantes de má conduta por parte dos secretários da comissão eleitoral e das assembleias de voto", acusando-os de chegar tarde aos centros de votação.
Já a organização Human Rights Watch (HRW) alertou para a existência de um "clima de insegurança generalizada", que afetou o ato eleitoral.
"Isso criou um clima de medo que pode desencorajar as pessoas de votar. Continua a existir preocupação com a violência que se verifica em todo o país. Violência que as forças de segurança não foram capazes de travar", afirmou a ativista da HRW Anietie Ewang.
O grupo de monitorização Yiaga África também disse estar "profundamente preocupado" com os atrasos verificados no ato eleitoral e a empresa de análise SBM Intelligence registou no sábado "atos de intimidação e violência" em pelo menos 13 estados.
Perto de 94 milhões de eleitores nigerianos foram chamados no sábado às urnas para escolher o sucessor de Muhammadu Buhari, de 80 anos, que está no poder desde 2015 e se encontra impedido constitucionalmente de concorrer a um terceiro mandato.
PT ameaça recorrer aos tribunais
O Partido Trabalhista da Nigéria, um dos principais partidos da oposição, vai recorrer para os tribunais do resultado das eleições gerais de sábado, anunciou este domingo (26.02), alegando "numerosas irregularidades".
A secretária nacional do partido, Alhaji Umar Faruk Ibrahim, citada pela agência de notícias Europa Press, disse que o partido tinha um forte apoio na maior parte da região norte do país, mas os eleitores foram impedidos de participar, "violentamente perseguidos" e expulsos das mesas de voto.
Noutros casos, os boletins de voto ou urnas foram destruídos, de acordo com uma declaração relatada pelo diário nigeriano "Vanguard", acrescentou.
Estes atos ocorreram em estados como Lagos, Rivers, Bayelsa, Kano, Yobe e Edo. Em alguns locais, o pessoal da Comissão Eleitoral Nacional Independente (INEC) não chegou às assembleias de voto ou o material de votação estava desaparecido ou atrasado "para frustrar os apoiantes do partido" que estavam "psicologicamente exaustos da espera" e foram embora.
O Partido Trabalhista informou que os seus eleitores foram deliberadamente vetados por vários meios em todo o país, mas particularmente em regiões onde esperavam ter um apoio significativo. Os eleitores que deveriam apoiar os trabalhistas também foram afastados das mesas de voto, com o argumento de que não era naquele local onde deveriam votar.
Umar disse que o partido "teria ganhado mais do dobro do número de votos" sem todas estas irregularidades. Em qualquer caso, apelou à calma entre os apoiantes do partido e à mobilização.
Ataques de bandidos
O presidente do Partido Trabalhista, Julius Abure, já tinha apresentado uma petição para anular as eleições nas regiões Obio/Akpor, Khana, Eleme, Obigbo e Rumukoro.
Abure expressou o seu "choque" com relatos de ataques de "bandidos" a várias mesas de voto das quais foram retirados materiais eleitorais, incluindo folhas de resultados, de acordo com a agência noticiosa nigeriana NAN.
Em resposta, um porta-voz do Presidente nigeriano Muhamadu Buhari, Bashir Ahmad, ridicularizou o apelo dos Trabalhistas. "Partido Trabalhista apela ao cancelamento das eleições presidenciais - hilariante!", escreveu na sua conta da rede social Tweet, numa mensagem acompanhada por quatro caras sorridentes.
APC ridiculariza as críticas da oposição
Mais tarde, o próprio partido do Governo, o Congresso de Todos os Progressistas, denunciou "os comentários incendiários" de representantes do Partido Trabalhista e do Partido Popular Democrático (PDP).
"Estamos impressionados com certos comentários inflamados de porta-vozes dos partidos da oposição, particularmente o PDP e o PT, sobre os resultados das eleições realizadas ontem [sábado], que ainda não foram anunciados", disse o porta-voz da CTP, Festus Keyamo, em declarações relatadas pelo diário "Vanguard".
"Alguns ameaçaram com fogo e enxofre se a sua própria versão das eleições não for anunciada. Eles querem ser juiz, júri e carrasco nestas eleições", acrescentou afirmando que esses partidos querem colocar os seus apoiantes "contra o país".
A Comissão Nacional de Eleições do país publicou até agora os resultados de 33.839 mesas de voto, de um total de 176.846 criadas em todo o país, ou seja, apenas 19%.
A organização não-governamental Yiaga África, que está como observadora, apontou que este atraso na publicação dos resultados afeta a confiança no processo de transmissão dos resultados.
"Por enquanto, a eleição presidencial de 2023 é outra oportunidade perdida", acrescentou, citada pela agência noticiosa Bloomberg.