Nigéria não consegue travar aumento de raptos
15 de março de 2024"Nem um cêntimo" é o valor que o Presidente nigeriano, Bola Tinubu, disse seria gasto para satisfazer as exigências dos raptores de mais de 280 crianças na semana passada uma vez que, argumenta, o pagamento de resgates foi tornado ilegal no país em 2022.
Mas as autoridades nigerianas podem estar a ficar sem tempo para garantir a libertação dos reféns no Estado de Kaduna, no noroeste do país, uma vez que os grupos de raptores prometeram matar os prisioneiros se as suas exigências não forem satisfeitas.
Os raptores em Kaduna pedem cerca de 560 mil euros pela libertação dos estudantes e do pessoal escolar e querem 11 veículos Toyota Hilux e 150 motociclos.
Raptos como os que tiveram lugar a 7 de março não aconteciam em grande escala desde 2021, embora, há vários anos, homens armados operem na região, raptando especialmente alunos para exigir o pagamento de resgates.
Raptos
No início da semana, cerca de 60 pessoas foram também raptadas noutra aldeia do Estado de Kaduna. Só nos últimos dez dias, cerca de 400 pessoas foram raptadas, incluindo outros 15 estudantes.
Segundo Ryan Cummings, diretor da Signal Risk, uma organização de análise de segurança especializada no continente africano, "há dois atores [por trás dos raptos]. De um lado, os militantes islâmicos. E, do outro lado, estão os grupos de bandidos considerados terroristas pelo governo nigeriano", explica.
As autoridades dizem que estão "a fazer o possível para garantir o regresso em segurança dos alunos e estudantes". Mas, apesar das garantias, o recente aumento destes casos é um desafio cada vez maior para o Governo nigeriano.
Cummings explica que para os islamistas "há algumas considerações políticas que exigem em troca da libertação dos reféns, como a libertação de alguns dos seus próprios militantes capturados", diz.
Já os bandidos locais, que operam principalmente no noroeste e no centro-norte da Nigéria, parecem ser motivados principalmente pelo dinheiro. E, em segundo lugar, pela proteção dos seus interesses territoriais.
"Os bandidos tendem a exigir concessões financeiras, mas também utilizam reféns em alguns dos seus campos para impedir que os militares nigerianos efetuem ataques aéreos às suas posições, por exemplo. Mas é óbvio que estão a utilizar civis como escudo humano", explicou.
"Mente aberta para negociar"
Enquanto o governo se mantém firme em não entrar em negociações com os raptores, alguns nigerianos acreditam que o Governo de Tinubu deve ter a "mente aberta" para lidar com a crise, como contam à DW alguns habitantes de Abuja.
"É preciso fazer alguma coisa porque tudo o que tentámos até agora não resultou. Todas as medidas de segurança que foram postas em prática pelo Governo falharam", disse um mãe residente naquela cidade.
Um outro cidadão ouvido pela DW apelou ao Governo para que "adquira a tecnologia mais recente para localizar os criminosos, porque é a única forma de avançar", disse.
E terá a Nigéria um Governo "demasiado corrupto" para resolver a crise dos raptos? O analista de segurança Cummings concorda que as autoridades nigerianas têm de intensificar os seus esforços para pôr fim aos raptos.
Cummings diz ainda que a corrupção dentro dos serviços de segurança também contribui para o descarrilamento dos esforços para acabar com a crise.
"A maioria dos membros das forças de segurança não tem recursos suficientes [para começar], faltam-lhes munições e provisões alimentares e outros recursos também. E o Estado não está em condições de fornecer recursos adicionais e isso tem de mudar. É preciso uma mudança de estratégia", conclui o analista.