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Saúde na Guiné-Bissau é a pior dos PALOP

Joana Rodrigues2 de junho de 2015

Os países africanos de língua portuguesa continuam longe dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) na saúde. A Guiné-Bissau é considerada o caso mais grave.

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Os hospitais na Guiné-Bissau têm condições muito precárias e falta de equipamentos básicosFoto: DW

No ano 2000, as Nações Unidas lançaram um desafio ao mundo: os 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, que abordam várias áreas, como a educação, a saúde ou a luta contra a pobreza. No campo da saúde pretende-se reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde materna e combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças.

As metas estabelecidas deveriam ser atingidas este ano, mas nos países africanos de língua portuguesa os indicadores continuam muito aquém do esperado.

A Guiné-Bissau é o país onde a situação é mais grave. A instabilidade política e social contribuíram para o aumento dos problemas de desenvolvimento e as graves falhas no sistema de saúde ainda persistem.

Kossi Ayigan, representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) na Guiné-Bissau, considera que, em comparação com anos anteriores, a saúde está a melhorar, mas ainda há problemas bastante grandes que têm de ser resolvidos.

"O país passou por uma grande instabilidade política há muito pouco tempo, o que afetou o setor da saúde. A OMS está a trabalhar com o Governo guineense para melhorar a qualidade dos serviços médicos, e a situação está a melhorar aos poucos, apesar de os indicadores estarem muito longe dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio", afirma Kossi Ayigan.

Kossi Ayigan, WHO-Repräsentant in Guinea Bissau
Kossi Ayigan acredita que a saúde no país está a melhorar aos poucosFoto: WHO

O responsável lembra que "65% da população ainda não tem acesso a cuidados de saúde próximos do seu local de residência. Muitas pessoas têm de se deslocar à capital e acabamos por perder muitas vidas por causa disso. O Governo tem de investir mais e tornar a saúde numa prioridade."

O país ainda lida com problemas como falta de equipamentos nos hospitais, falta de recursos humanos qualificados e falta de acesso aos cuidados médicos por parte da maioria da população.

Rogério Roque Amaro, economista e professor no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), considera que as medidas que têm sido tomadas para inverter esta conjuntura não são suficientes. "É uma situação muito problemática. A Guiné-Bissau é um país onde se continua a morrer muito cedo, onde continua a haver muitas mortes de crianças até aos cinco anos e onde continua a haver muitos riscos de morte de mães na altura do parto", afirma.

Segundo o economista, "as estruturas hospitalares têm grandes deficiências, a começar pela própria capital, até em termos de uma coisa que é básica: haver luz elétrica. Até no hospital central de Bissau essa situação falha imensas vezes. Já para não falar do acesso à água potável, que nem sempre é garantido."

Um dos países mais pobres do mundo

A Guiné-Bissau tem 1.7 milhões de habitantes e 70% da população vive em zonas rurais onde o acesso à saúde é ainda mais limitado. A esperança média de vida à nascença é de 48 anos. O VIH/SIDA continua a aumentar, e a malária e a tuberculose estão entre as grandes causas de morte no país. As taxas de mortalidade infantil e materna também atingiram números preocupantes.

"O VIH, a malária e a tuberculose são dos maiores problemas do país", declara Kossi Ayigan. "Também é preciso criar um sistema que se foque na saúde infantil e materna, pois morrem 55 crianças por cada mil nascimentos, e 900 mães por cada 100 mil, o que representa um aumento preocupante em relação a anos anteriores. É preciso diminuir estes números para que a Guiné-Bissau possa ficar mais perto de atingir os ODM".

Rogerio Roque Amaro
Rogério Roque Amaro defende que as falhas no sistema de saúde só podem ser resolvidas com um maior investimentoFoto: Hugo Cruz

Segundo a OMS, a solução passa por um maior investimento por parte do Governo. Menos de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) da Guiné-Bissau é destinado à saúde, o que é muito insuficiente dado os problemas que o país enfrenta.

Rogério Roque Amaro defende ainda que se deve apostar mais na prevenção."O país tem uma tradição interessante em algumas zonas de rádios comunitárias, que podem e devem ter um papel fundamental na educação para a saúde, e na difusão de informação de prevenção", diz o economista. "Além disso, a Guiné-Bissau precisa de um enorme investimento. Está quase tudo por fazer. Não digo que nada tenha sido feito, mas foi tudo muito insuficiente e muito aquém daquilo que é necessário. Isto ilustra as enormes lacunas e insuficiências do sistema de saúde."

A Guiné-Bissau ocupa o 177° lugar em 187 países em termos Índice de Desenvolvimento Humano, e 33% da sua população continua a viver em grave situação de pobreza, com menos de um dólar por dia.

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