Novo impasse negocial em Moçambique
5 de maio de 2014Delegações do Governo e da RENAMO reunidas esta segunda-feira (05.05), em Maputo, voltaram a não alcançar consenso no debate do ponto relativo às forças de defesa e segurança. Dlakhama ainda não se recenseou.
As duas partes sentaram-se à mesa negocial pressionadas pela escalada da violência e pela aproximação do fim do prazo de prorrogação do recenseamento, no próximo sábado (10.05).
A apenas quatro dias do fim do processo, Afonso Dlakhama, líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição, ainda não se recenseou, condição para votar e ser eleito. Algumas populações residentes em zonas diretamente afectadas pelo conflito também não se conseguiram aidna recensear.
Quando tudo parecia indicar que o recenseamento iria acontecer na região da Gorongosa, onde se supõe que se encontra refugiado Afonso Dhlakama, as brigadas de recenseamento não conseguiram ter acesso ao interior do distrito devido a divergências entre o Governo e a RENAMO sobre quem deveria garantir a segurança dos brigadistas.
Troca de acusações continua
A RENAMO exige que a segurança dos brigadistas seja da exclusiva responsabilidade dos seus homens armados e rejeita a presença de membros das forças policiais do Governo.
A ala juvenil do partido convocou a imprensa esta segunda-feira, em Maputo, para manifestar a sua preocupação. A presidente da Liga Juvenil da RENAMO, a parlamentar Ivone Soares, disse que não faz sentido que Afonso Dhlakama, que descreveu como “candidato natural” do seu partido às presidenciais de 15 de outubro próximo, esteja a ser impedido, de se recensear pelas autoridades governamentais.
“O nosso interesse é que se deixe de encarar as coisas de ânimo leve e permitir que todos os moçambicanos, à luz da Constituição, possam realmente exercer este dever cívico de se recensearem”, afirmou. “Se isso acontecer, de certeza que a paz vingará e não as hostilidades”, sublinhou ainda Ivone Soares.
O chefe da delegação do Governo nas negociações com a RENAMO, José Pacheco, responsabiliza este partido pela não realização do recenseamento na Gorongosa e adianta que as eleições vão para a frente, com ou sem a presença da RENAMO, apesar das ameaças do partido da oposição de inviabilizar o processo. “Vamos realizar eleições de acordo com o nosso programa”, assegurou.
Discórdia sobre forças de defesa
No diálogo desta segunda-feira, o ponto de discórdia entre o Governo e a RENAMO voltou a situar-se na questão relativa às forças de defesa e segurança, como revelou o chefe da delegação da Renamo, Saimone Macuiane.
“O Governo continua a não aceitar este princípio. Continuamos a defender que é preciso haver uma reorganização das forças de defesa e segurança, para dar garantias às partes e maior confiança”, declarou Macuiane.
O chefe da delegação do Governo, José Pacheco, responsabiliza a RENAMO pelo arrastar da decisão sobre a missão dos observadores internacionais que devem acompanhar in loco o cessar-fogo, o desarmamento da RENAMO e a integração social e económica dos homens armados deste partido.
“A RENAMO diz que tem de ser incluída a questão da paridade. As armas têm que ser entregues a uma instituição a que chamam de instituição credível e apartidária. Uma RENAMO que não está disposta a desarmar-se, que pretende continuar a matar e a destruir”, criticou José Pacheco.
A RENAMO ameaçou na semana passada, através do seu porta-voz, António Muchanga, reposicionar os seus homens armados na sequência de alegados ataques que estariam a ser protagonizados pelas forças governamentais na Gorongosa.
No último sábado (03.05) foram retomados os ataques contra colunas de viaturas civis no troço entre Muxungué e o Rio Save, tendo ficado feridas pelo menos cinco pessoas.