Novo líder da UNITA sinaliza rutura com o passado
20 de novembro de 2019Como braço-direito, Adalberto Costa Júnior escolheu uma mulher para 1.ª vice-presidente do partido, Arlete Liona Chimbinda. Ao contrário do que vinha sendo prática há 53 anos, desde a fundação da formação da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), o novo líder introduziu duas vices-presidências, um secretário-geral e dois secretários-gerais adjuntos.
À exceção do presidente do grupo parlamentar, Liberty Chiyaka, até há pouco tempo dirigente do partido na província do Huambo, os restantes membros do núcleo duro da UNITA são ilustres desconhecidos da generalidade dos angolanos e até mesmo de parte significativa da imprensa e dos analistas políticos.
Segundo uma nota do partido citada pela imprensa, Simão Dembo foi nomeado para o cargo de 2.º vice-presidente, Álvaro Daniel foi escolhido como secretário-geral, Mwata Virgilio Samussongo como secretário-geral adjunto e Lázaro Kakunha como secretário-geral adjunto para as autarquias.
"É uma equipa inesperada", comenta o analista e advogado Domingos Chipilika.
"Figuras imaculadas"
Para Chipilika, a equipa de Adalberto Costa Júnior revela uma rutura com práticas do passado.
"Isso significa que a UNITA quebra a tradição e apercebe-se que a sociedade hoje impõe outro tipo de comportamentos. Portanto, traz figuras completamente novas, 'imaculadas' ao nível político, para que a UNITA renasça neste aspeto", afirma o analista em entrevista à DW África.
Opinião semelhante tem o jornalista Félix Abias, do jornal Vanguarda, que espera que a não introdução de rostos históricos não venha condicionar o mandato de Adalberto Costa Júnior.
"Há uma certa rutura com o passado, se partirmos do princípio que, na sua equipa, até agora, não tem ninguém com quem concorreu no congresso. De qualquer forma, espero que isso não afete a harmonia e a coesão do partido", comenta Abias.
Desafios de Adalberto Costa Júnior
São vários os desafios colocados nas mãos do novo líder da UNITA: ser partido governante em 2022, a recuperação do património partidário na posse do Governo angolano, a integração dos ex-militares e desmobilizados na Caixa de Previdência e Segurança Social do Ministério da Defesa, e, por fim, a reconciliação interna, sobretudo com as famílias de influentes dirigentes que foram mortos em circunstâncias adversas, a mando e ou com o conhecimento do líder-fundador Jonas Savimbi.
Entretanto, apesar de estar há apenas quadro dias na condução dos destinos do maior partido na posição, já há críticas à nova liderança. O jornalista Félix Abias lamenta, por exemplo, que não tenha sido nomeado até agora um porta-voz para interagir com a imprensa.
"Não sei se isto é sinal de que alguma coisa não vai bem, em termos de aceitação, porque era suposto que Adalberto Costa Júnior, como candidato, tivesse já em mente com quem ele contaria para diversos lugares, nomeadamente o de porta-voz do partido", diz Abias.
Desde que Adalberto Costa Júnior assumiu a liderança da UNITA, a imprensa tem muitas dificuldades em obter pronunciamentos oficiais da formação partidária. Por diversas vezes, a DW tentou ouvir o novo presidente e o seu secretário-geral, Álvaro Daniel, sem sucesso.
Advinha-se ainda, segundo o analista Domingos Chipilika, muito trabalho pela frente: "Estamos com um Governo do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola] completamente desgovernado, e as pessoas estão a sofrer e sentir na pele a má governação. A UNITA precisa de ser alternativa. Mas, para que consiga superar o MPLA, terá de trabalhar muito".