Níger: "Ultimato da CEDEAO é mera declaração de princípios"
31 de julho de 2023Uma "declaração de princípios". É assim que o analista político guineense Armando Lona classifica o ultimato da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) ao Níger, dando uma semana aos golpistas para retomar a ordem constitucional a admitindo mesmo o uso de força.
Em entrevista à DW África, Armando Lona diz que o ultimato é pouco realista e a CEDEAO pouco pode fazer. O analista lembra que a situação no Níger é complexa, o Presidente Mohamed Bazoum continua detido e há muitos interesses em jogo.
DW África: A reação da CEDEAO foi adequada?
Armando Lona (AL): Não é uma reação adequada, nem realista, tendo em conta as características do país. Vejo como uma reação formal, apenas um anúncio daquilo que são os princípios.
DW África: A CEDEAO não descartou o uso da força para restaurar a ordem constitucional. Acredita que não chegará a este ponto?
AL: O Níger é um país complexo. A CEDEAO sabe disso. Teve uma experiência na Gâmbia de uso de força, mas Gâmbia e Níger são duas situações diferentes.
DW África: Quais as particularidades do Níger?
AL: É um país vasto, com um Exército mais ou menos bem estruturado, com vasta experiência na luta contra grupos jihadistas e terroristas. Falar no uso de força implicaria o envio de uma força do CEDEAO para o país e, do ponto de vista militar e social, não é uma opção imaginável neste momento.
A CEDEAO tem outras situações mais complexas, como o Mali e Burkina Faso, dois países afetados pelo terrorismo e, até agora, não demonstrou essa capacidade de enviar contingentes para ajudar os países a sair dessa situação. Por outro lado, é bom realçar que o Níger faz fronteira com países considerados "não alinhados" no seio da CEDEAO, como o Burkina Faso e Mali. Ambos os países vão ser determinantes na consolidação do poder militar agora instalado no Níger.
Outra variável a ter em conta é o parceiro militar que está a ser determinante na costa ocidental africana, que é a Rússia. Tem presença no Burkina Faso e no Mali, e face a qualquer tentativa de impor a força, temos de admitir que esse parceiro poderá também fazer manobras no terreno.
DW África: O que é que este golpe significa para a CEDEAO, nomeadamente depois de tantas intentonas e até de golpes de Estado?
AL: É mais um desafio, à semelhança de outros nos últimos anos. Os golpes de Estado no Mali, na Guiné-Conacri, no Burkina Faso e agora no Níger são desafios para a organização se posicionar claramente sobre a sua real capacidade em lidar com a realidade atual. Para além dos golpes, há outros flagelos, incluindo o terrorismo. E tem havido muitas dificuldades em lidar com estas realidades cada vez mais complexas.