O amor por dois lugares que se cruzam no fado e na morna
24 de abril de 2013Silvestre Fonseca desafiou os amigos do país da Morabeza e deu corpo ao seu mais recente trabalho discográfico “FADOS E MORNAS”, apresentado num concerto em Lisboa na noite desta terça-feira, 23 de abril de 2013, dia do seu aniversário.
De fato a rigor, sentado frente ao público, o músico abriu o concerto com um dos primeiros arranjos que fez em 1996. A sala estava cheia na Sociedade de Geografia de Lisboa para a estreia mundial do concerto “Fados e Mornas”, e a apresentação simultânea do CD do mesmo nome.
Todos os arranjos originais do autor basearam-se nos dois géneros de música, transformando o concerto num espetáculo inédito. O disco resulta de um trabalho aprofundado de pesquisa e criatividade, e é um tributo a Cabo Verde, onde Silvestre Fonseca já fez vários concertos.
Cabo Verde é terra de arte marcante
O projeto nasce, assim, de um amor por dois lugares, disse o músico à DW África: “Portugal e o seu fado, Cabo Verde e as suas mornas. Portugal, porque foi onde nasci e Cabo verde, porque vou lá vivendo sempre que posso. É uma terra maravilhosa e com uma arte marcante”.
Silvestre Fonseca fala da morna e do fado com emoção. Embora independentes como arte, são dois estilos convergentes no objetivo. Tanto um como outro elevam o sentimento, a saudade, diz. Já com 36 anos de carreira, o músico realizou concertos em toda a Europa, África e América. Para este trabalho, contou com o contributo de vários amigos. Um deles é Dany Silva, músico cabo-verdiano radicado em Portugal: “Para mim não é surpresa nenhuma, porque o Silvestre há muito tempo já que é um amante da música de Cabo Verde, sobretudo das mornas”.
A música por uma boa causa
Ao longo do concerto, Silvestre Fonseca tocou alguns dos temas do álbum de 11 faixas, que inclui, por exemplo, trechos de Amália Rodrigues - uma das vozes distintas do fado - e Eugénio Tavares - poeta, compositor e grande impulsionador da morna, originária da ilha da Boavista. Simonetta Luz Afonso, figura portuguesa ligada à cultura, também deixou o seu testemunho à DW África sobre esta obra de simbiose entre Portugal e Cabo Verde: “Acho que é um casamento muito interessante, em que a cultura prova que também que a cultura pode ser útil, além dela própria ser útil também aos outros. A música não tem fronteiras, a cultura não tem fronteiras e pode ajudar grandes causas”
E é neste espírito que uma parte da receita de venda do CD reverterá a favor da HELPO, uma instituição de solidariedade que ajuda as crianças em África a cumprirem a escolaridade e a encontrarem uma profissão no futuro, entre outras iniciativas sociais.
A morna a caminho de Património Imaterial da Humanidade
Também esta faceta do concerto foi, por isso, aplaudida pelos espectadores que esgotaram a sala, e entre os quais estavam a Embaixadora de Cabo Verde em Portugal, Madalena Neves, e a primeira dama de Cabo Verde, Lígia Fonseca. Para a mulher do Presidente, Jorge Carlos Fonseca, o fado e a morna são almas gémeas. Tal como aconteceu com o fado, diz Lígia Fonseca, também a morna será certamente reconhecida pela organização cultura das Nações Unidas, UNESCO, como Património Imaterial da Humanidade. Um reconhecimento reivindicado igualmente por Dany Silva: “Para já, já é Património Nacional. E penso que a morna tem todas as condições para ser também património mundial”.
Para Silvestre Fonseca, esta foi uma noite muito especial. E o músico avança com os seus próimos planos: no final do ano, será lançado, na capital britânica, Londres, um livro seu, que incluirá músicas de Cabo Verde com adaptações para salas de concerto da sua coleção “Música para Guitarra”.