O impacto das alianças na segunda volta na Guiné-Bissau
4 de dezembro de 2019O cenário político da Guiné-Bissau está a configurar-se para a disputa da segunda volta das eleições presidenciais, marcada para 29 de dezembro. Domingos Simões Pereira, o candidato do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) enfrentará nas urnas Umaro Sissoco Embaló, apoiado pelo Movimento para Alternância Democrática (MADEM-G15).
Enquanto se negoceiam alianças, os observadores estão céticos quanto a uma transferência automática de votos.
O analista político Suleimane Cassamá acredita que as alianças políticas que estão a ser desenhadas não terão o efeito desejado. Para ele, a ideia de transferência de votos não é automática. "Não se pode pensar que vamos apoiar o fulano e [ele] já terá os votos dirigidos. Isso não vai acontecer."
Os grupos de jovens que estiveram com José Mário Vaz e Carlos Gomes Júnior na primeira volta anunciaram apoio a Simões Pereira. Por sua vez, Gomes Júnior e Nuno Nabiam - dois candidatos derrotados na primeira volta - anunciaram que estarão ao lado de Sissoco Embaló na reta final das presidenciais.
Debates no APU-PDGB
A aliança entre Nabiam e Sissoco Embaló está a tornar-se um capítulo à parte na disputa por aliados. A aproximação entre os dois políticos não terá sido bem aceite por muitos membros da Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), partido de Nabiam. O partido poderá pronunciar-se em breve para se distanciar da atitude do seu líder.
Um integrante do APU-PDGB revelou à DW África que o apoio de Nabiam a qualquer um dos candidatos à segunda volta "deveria ter sido decidido pelos órgãos do partido".
Para o analista Cassamá, Nabiam não conseguiu convencer o seu próprio partido a apoiar a sua candidatura na primeira volta, então "dificilmente isso ocorrerá com uma candidatura diferente”.
O acordo que consolidou a aliança entre Nabiam e Embaló foi assinado no Senegal, na terça-feira (03.12). Nuno Nabiam é o líder do APU-PDGB, partido que representa a quarta força no Parlamento e integra o atual Governo do PAIGC.
Discurso e mobilização
O analista político Bacar Camará opina que o discurso e a capacidade de mobilização dos candidatos serão fatores determinantes para a vitória na segunda volta.
"A capacidade de gerar uma narrativa que crie expetativa e repudie aquilo que se introduziu na nossa democracia: uma ameaça de fragmentação social e da nossa convivência pacífica, que é o argumento étnico-religioso."
Na terça-feira, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) definiu por sorteio que o boletim de voto da segunda volta terá Simões Pereira na primeira posição e Sissoco Embaló na segunda.