O medo da intervenção militar na Gâmbia
17 de janeiro de 2017A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) pondera a possibilidade de intervenção militar, segundo agências internacionais. Esta terça-feira, o Presidente Yahya Jammeh decretou estado de emergência e falou numa "ingerência estrangeira", o que aumenta o temor de um intervenção militar no país.
Antes disso, Alex Vines, especialista em África do Instituto Real de Relações Internacionais de Londres, já previa "um período confuso após o dia 19 de janeiro", quando ocorre a cerimónia de posse do Presidente gambiano eleito.
O especialista diz que Jammeh, há 22 anos no poder, e os seus apoiantes consideram que o Presidente "deva permanecer no cargo até a decisão da Suprema Corte sobre seu pedido" de anulação das eleições de 1 de dezembro. "O que significa que teremos uma oposição entre os apoiadores de Jammeh e os adeptos de Adama Barrow", acrescenta Alex Vines.
Além disso, o especialista acredita que "a curto prazo surgirão mais esforços para mediação". De facto, ministros já renunciaram ao Governo do Presidente Yahya Jammeh, de acordo com a televisão estatal da Gâmbia e a situação política permanece tensa, à medida em que cresce a incerteza sobre o futuro da liderança do país.
Anulação das eleições
Adama Barrow deverá assumir o poder a 19 de janeiro. Mas o Presidente cessante espera que a Suprema Corte considere a petição que o seu partido apresentou, rejeitando a vitória de seu opositor e pedindo a anulação legal das eleições de 1 de dezembro com a realização de novas eleições.
Na semana passada, chefes de Estado da CEDEAO visitaram a Gâmbia para tentar persuadir Jammeh a deixar o cargo, mas o intento falhou.
Por causa da crise, centenas de gambianos já começaram a abandonar o país em direção ao Senegal e à Guiné-Bissau. Também Adama Barrow, a quem o chefe de Estado cessante recusa ceder o poder, foi acolhido no último domingo (15.01) pelas autoridades senegalesas.
"O Senegal tem contribuído muito para a pluralidade política e tem um histórico de pobres relações com a Gâmbia e, particularmente, com Yahya Jammeh. Por isso, penso não ser coincidência o Presidente eleito da Gâmbia, Adama Barrow, ser agora acolhido no Senegal", explicou Vines, especialista em África do Instituto Real de Relações Internacionais de Londres.
Insatisfação na Gâmbia
Muitos gambianos declaram-se insatisfeitos e já começaram a deixar o país rumo ao Senegal, temendo, inclusive, a perseguição política, a exemplo do co-fundador do movimento "A Gambia já decidiu" (#Gambiahasdecided), o advogado Salieu Taal.
"O ex-Presidente Jammeh não tem poder, é um cidadão como qualquer outro; não possui status especial diante da corte. Ele tem se negado a aceitar a vontade do povo da Gâmbia", disse Taal em entrevista à DW.