O mistério do "excesso de energia" na Nigéria
17 de agosto de 2015Quem chega a Lagos costuma deparar-se com trânsito caótico e poluição atmosférica. E também com o ruído dos geradores, que há anos faz parte da "banda sonora" da cidade onde vivem nove milhões de pessoas.
No entanto, nas últimas semanas, o som dos geradores ouve-se cada vez menos. Lagos está a passar por mudanças no sector da energia. "Agora temos mais electricidade do que nunca. Já temos 24 horas de eletricidade sem quaisquer cortes", conta Zakari Yao, que é dono de uma loja.
Antes, o comerciante era obrigado a desligar as arcas frigoríficas da sua loja para reduzir os custos do gerador. "Agora, já temos água fria e tudo o que as pessoas querem dos frigoríficos. Está tudo disponível a 100%", relata com satisfação.
Mecânicos e soldadores também respiram agora de alívio, uma vez que dependem muito da electricidade para o seu trabalho – e o uso de geradores é muito dispendioso.
Falta de energia e de combustíveis
Falhas de energia são típicas na Nigéria. Duram dias, semanas, por vezes até meses. A rede de energia elétrica do país está ultrapassada e não consegue responder às necessidades do país mais populoso de África.
Além disso, muitas vezes os postos de gasolina ficam dias a fio sem combustível. Ironicamente, o maior produtor de petróleo de África acaba até por importar gasolina e os custos são altos.
Ao longo dos anos, os nigerianos aprenderam a viver com a situação e a encontrar meios alternativos de abastecimento. Quem tem dinheiro, arranja um gerador e compra gasolina no mercado negro, a preços inflacionados.
Vários chefes de Estado prometeram resolver o problema de energia do país - sem resultados visíveis. "A elite política beneficiou do dinheiro do setor de energia durante demasiado tempo", afirma Bashir Kurfi, professor na Universidade Ahmadu Bello, em Zaria, no norte da Nigéria, e presidente da ONG Network for Justice:
"Nos tempos dos Presidentes Olusegun Obasanjo e de Goodluck Jonathan, foram gastos mais de 300 mil milhões de dólares no sector da energia e ainda não há electricidade", lembra o economista. "Com este montante, poderia desenvolver-se um projeto para toda a região de África Ocidental e Central – isso se houvesse um Governo sério."
Os porquês da mudança repentina
Mas desde que Muhammadu Buhari tomou posse como Presidente, há dois meses, parece já ter sido feito algo. O abastecimento de energia eléctrica é mais estável, refinarias antigas voltaram a funcionar e nos postos de abastecimento há combustível mais barato.
Garba Ibrahim Sheka, professor de economia na Universidade Bayero, em Kano, não tem dúvidas: estes desenvolvimentos têm que ver com as novas reformas no setor do petróleo, sobretudo na petrolífera estatal. Em junho, Buhari demitiu a administração da Companhia Petrolífera Nacional Nigeriana (NNPC, na sigla em inglês). E no início de agosto nomeou Emmanuel Kachikwu como novo chefe.
Ainda assim, o académico considera que ainda há alguns pontos por esclarecer. Como a questão da eletricidade que, na opinião de Garba Ibrahim Sheka, ainda não está clara. "Quando o novo Governo entrou em funções, viu-se uma grande quantidade de combustível nos postos de abastecimento. As pessoas pensam que foi o Governo, mas o Governo não está a fazer nada em relação ao setor elétrico. Ainda não se viu um esforço sério."