O que esperar do PM? "Tudo é prioridade na Guiné-Bissau"
7 de agosto de 2023Em entrevista à DW África, o analista político Rui Jorge Semedo diz esperar que, num país onde "tudo é prioridade", o novo Governo se comprometa "com uma gestão da coisa pública mais responsável".
Considerando que Geraldo Martins "é uma figura em condições" de assumir o cargo de primeiro-ministro, tal como proposto pela coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI)-Terra Ranka, o analista guineense diz acreditar que os responsáveis dos órgãos de soberania trabalhem lado a lado, respeitando a "separação de poderes".
DW África: O que esperar do novo primeiro-ministro e Governo da Guiné-Bissau?
Rui Jorge Semedo (RJS): Espera-se uma gestão da coisa pública mais responsável, com o compromisso de trabalhar para a produção de riqueza e para a sua distribuição de forma equitativa.
Infelizmente, o processo de desenvolvimento e de ação governativa ainda não chegou às regiões – beneficiou somente a capital, Bissau. Sendo assim, espera-se do próximo Governo uma compreensão mais estruturada das necessidades do país.
DW África: É expectável, com as negociações que temos vindo a assistir entre a PAI - Terra Ranka e o PRS e agora com o PTG, que se alcance a estabilidade no país?
RJS: Sim, creio que o propósito destas alianças é exatamente esse: criar estabilidade no Parlamento e, simultaneamente, influenciar a governabilidade. Agora, resta ver se os partidos serão capazes de se manter fiéis aos compromissos políticos assumidos, tanto no Parlamento como no Governo. O país precisa de um consenso nacional para sair desse marasmo que gira em torno de conflitos cíclicos.
DW África: A coligação PAI - Terra Ranka propôs, este domingo, o nome de Geraldo Martins para o cargo de primeiro-ministro. O que acha desta proposta? É um nome capaz de assumir estes compromissos?
RJS: Geraldo Martins tem condições para assumir a responsabilidade, uma vez que integrou o Executivo, em 2015. Domingos Simões Pereira [o coordenador da coligação PAI - Terra Ranka, vencedora das legislativas de junho] era, na altura, primeiro-ministro. Geraldo Martins participou na elaboração do programa do Governo. Agora, também compreende o programa, mas resta saber se terá condições de acompanhar e implementar os compromissos governativos.
DW África: E há também a questão da relação com o Presidente Umaro Sissoco Embaló…
RJS: Temos de acreditar que os responsáveis dos órgãos de soberania vão amadurecer, trabalhando não só numa relação de interdependência, mas também de separação de poderes.
O senhor Presidente da República prometeu logo após a promulgação dos resultados eleitorais que iria trabalhar com quem a coligação [PAI - Terra Ranka] indicasse como primeiro-ministro e, ao mesmo tempo, contribuir para a ação governativa. E é isso que nós esperamos, porque qualquer tentativa de inviabilizar o processo governativo conduzirá novamente o país a consequências imprevisíveis.
DW África: Para além da realização de sessões extraordinárias esta semana, o Parlamento guineense deverá reunir-se no final do mês, caso o novo Governo entre em funções, para debater a situação do país. Quais devem ser, na sua opinião, as prioridades do novo Executivo? As questões sociais?
RJS: É muito difícil apontar uma política específica, porque tudo é prioridade na Guiné-Bissau. Mas o próprio Governo [assinalou vários pontos] a esse respeito – as questões sociais [são importantes], não só por causa do insucesso verificado na comercialização da campanha de caju, mas também devido à situação na educação e saúde. E há ainda o tema das reformas [estruturais], que será certamente uma das principais agendas do Parlamento nesta legislatura.