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O que está realmente por detrás da compra de barcos franceses por Moçambique?

Nádia Issufo11 de outubro de 2013

A opinião pública em Moçambique considera a compra de 30 navios a França como pouco clara e exige explicações do Governo. Questiona-se sobre o motivo que levou o Executivo a gastar 300 milhões de euros com a aquisição.

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Foto: U.S. Navy/James Turner/Released

Vinte e quatro barcos são para pesca e os restantes seis para o patrulhamento da costa moçambicana, de acordo com o Governo moçambicano. Sabe-se que os ataques terroristas e os piratas não atuam muito longe do país, mas esta compra acontece numa altura em que Moçambique vive uma tensão política que em alguns momentos assume caráter de guerra.

Também a costa moçambicana é alvo de prospeção de hidrocarbonetos e a sua atividade também carece de segurança. E isso está a cargo das multinacionais que desembolsam milhares de euros por dia.

No entanto, para o jornalista e analista moçambicano Fernando Lima, não são esses os motivos que levaram o Governo a fazer a aquisição. O analista explica que Moçambique tem vindo a sofrer pressões, nomeadamente em relação à sua permeabilidade na questão do tráfico de droga e de tráfico de seres humanos.

Moçambique é um "corredor da droga"

Muitos relatórios internacionais indicam que o país "é um dos grandes corredores da droga da Ásia e da América Latina" que atravessa o país para ser comercializada no "mercado sul africano e europeu", explica Fernando Lima. Contudo, o país "não tem conseguido encontrar os antídotos" necessários para travar o trânsito de narcotráfico, afirma o jornalista.

Symbolbild Kokain
Moçambique sobre pressões por ser permeável à entrada de narcotráficoFoto: Fotolia/Africa Studio

O analista questiona a compra dos 24 barcos tendo em conta os baixos índices de produção do país. Outro facto que levanta mais pontos de interrogação ao processo de aquisição é que um dos proprietários da empresa EMATUM, a Empresa Moçambicana de Atum, que aparece como compradora, é o SISE, a secreta moçambicana.

Fernando Lima lembra que esta secreta tem um passado ligado à secreta soviética, que tinha um braço muito ligado à economia e que eram controlados por si.

Moçambique imitou este sistema. Para o jornalista, hoje, esta prática revela-se um contra-senso, "uma vez que não há, no fundo, uma grande alteração na política económica de Moçambique". Destaca pontos que são, para ele, "muito interessantes", nomeadamente "a ligação de uma operação mais ou menos secreta aos serviços de segurança" do país. "Sem haver socialismo em Moçambique voltamos de algum modo à estatização de uma parte da nossa economia", reitera Lima.

Compra de mais 30 navios prevista

Entretanto, uma outra compra de mais 30 navios está também prevista. O Governo ainda não deu a conhecer os detalhes o Governo, mas já fez saber que está em vista a aquisição de armas para que os patrulheiros dos barcos, agora comprados, as possam usar.

Armando Emilio Guebuza Präsident Mosambik Afrika
O Executivo de Armando Guebuza (na foto) pretende comprar mais 30 navios à FrançaFoto: picture-alliance/dpa

Sobre o fornecedor nada se sabe, mas Fernando Lima diz que este "equipamento terá que ser comprado em separado". Não descarta a possibilidade da compra ser feita a França, apesar do país não ser "tradicionalmente um fornecedor de equipamento militar a Moçambique".

A sociedade moçambicana contexta a falta de informação por parte do Executivo. E a contradição de informações dadas por alguns ministros relativas às modalidades de compra bem como a criação relâmpago de uma empresa que consegue reunir tanto capital em poucos dias de existência, a EMATUM, fazem com que a sociedade também suspeite dos envolvidos.

Face a isto, há ou não espaço para a corrupção? "Não vi ainda qualquer evidência de corrupção mas corrupção prospera quando há falta de transparência, quando há falta de informação", responde o analista. Aceita que possa ter havido altas comissões envolvidas "porque estes negócios têm sempre grandes comissões", segundo Fernando Lima.

De acordo com o jornal eletrónico moçambicano "Media Fax", a EMATUM entrou nos mercados europeus para se autofinanciar, tendo contraído em nome do país dívidas na ordem dos 625 milhões de euros. Os especialistas do Standard Bank consideram que os retornos dos empréstimos são bastantes questionáveis. O primeiro empréstimo de 370 milhões de euros foi contraído ao Credit Suisse e o resto ao banco russo Vnesh Torg Bank.

O que está realmente por detrás da compra de barcos franceses por Moçambique?

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