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O que leva tantas pessoas a arriscar a vida para abandonar a Eritreia?

Antje Diekhans / Cristina Krippahl 4 de outubro de 2013

Entre as vítimas do naufrágio ao largo da ilha italiana de Lampedusa, na quinta-feira (03.10), conta-se um número elevado de eritreus. São muitos os que arriscam a vida para sair de um dos países mais pobres do mundo.

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Um barco da Guarda Costeira espanhola a trazer refugiados africanos para FuerteventuraFoto: picture-alliance/dpa/dpaweb

Num bairro de lata na periferia da capital eritreia, Asmara, crianças brincam com paus e pedras, observadas por jovens sentados num muro. A pergunta se estão na disposição de dar uma entrevista suscita uma discussão acesa.

É que na Eritreia pode ser perigoso dizer abertamente a opinião. Muita gente que o fez foi presa. A organização não-governamental "Repórteres sem Fronteiras" considera a Eritreia o país no mundo com menos liberdade de imprensa. Depois de alguma hesitação, os jovens acabam por nos contar alguma coisa deles próprios. Daniel, de 19 anos, é mecânico e aufere um salário muito baixo.

"Na verdade não ganho o suficiente, mas desenvencilho-me. Não sou pobre nem rico", diz Daniel.

O mundo dentro das fronteiras

Daniel conhece pouco do mundo além fronteiras. Tal como os seus amigos, nunca saiu do país. Não tem acesso à internet e não há jornais estrangeiros para comprar. "Só conheço a Eritreia. É onde estou em casa e posso comunicar na minha língua. Tenho orgulho no meu país, mesmo que não seja tudo perfeito", afirma o jovem.

Straßenszene in der Independence Avenue in Asmara, Eritrea
Avenida na capital da Eritreia, AsmaraFoto: picture-alliance/ dpa

Resta saber se Daniel diz o que pensa ou se as suas afirmações são resultado do medo. A Eritreia é um dos países mais pobres do mundo. O pequeno Estado com cerca de cinco milhões de habitantes está rigorosamente isolado do exterior. Após uma longa guerra, o Governo de Asmara ainda se sente ameaçado pelo grande vizinho, a Etiópia.

Rapazes e raparigas cumprem um longo serviço militar obrigatório. Todos os anos, milhares de eritreus tentam fugir à pobreza e à opressão. Confiam a vida a traficantes e lançam-se ao mar em embarcações frágeis e sobrelotadas. No início do ano escaparam para o exterior rumores sobre uma tentativa de golpe de Estado. O conselheiro do Presidente, Yemane Ghebreab, não nega a ocorrência.

"Houve dificuldades. A guerra obriga-nos a um serviço militar de ano e meio, mas há jovens que têm que ficar mais tempo" explica. Yemane Ghebreab diz que "há muito que não nos é possível aumentar os salários" e que têm que "comunicar melhor com a população".

A promessa de voltar

A promessa de mais abertura dos líderes ainda não se materializou. Quem quiser singrar, tem que viver de acordo com as regras do partido governamental. Como Salam Teklemariam, de 27 anos, que conseguiu aceder ao centro do poder depois do serviço militar, e pertence aos poucos eritreus que podem viajar.

O que leva tantas pessoas a arriscar a vida para abandonar a Eritreia?

Agora planeia visitar a Europa, mas diz que depois quer regressar à Eritreia. E recusa-se a aceitar que haja muitos jovens da sua idade que procuram abandonar o país.

"Mas tu viste-os? Há provas?", questiona Teklemariam. Aceita que haja muitos africanos que gostariam de viver no estrangeiro, "mas a razão é a pobreza". Querem ganhar bem para ajudar a família em casa, diz mas relembra que "não há aqui qualquer crise, política ou outra".

A reacção provável do Governo ao drama de refugiados de Lampedusa é um maior isolamento ainda. Mas mesmo que a fuga se torne mais difícil, pessoas desesperadas encontrarão sempre um meio para escapar.