Onda de apelos ao diálogo em Moçambique
16 de abril de 2013
A sociedade civil moçambicana assiste com muita preocupação aos confrontos entre o Governo e a opositora RENAMO. A Fórum Mulher, uma organização não governamental (ONG) que defende os direitos das mulheres, e a Conferência Episcopal de Moçambique enviaram na segunda feira (15.04) duas cartas abertas ao Chefe de Estado moçambicano e ao líder do principal partido da oposição, a RENAMO, exigindo diálogo, cedências e paz no país.
"Queremos nossas filhas e filhos carregando livros para a escola e não armas para fazer a guerra". Esta é uma das frases que se pode ler na Carta aberta, escrita pela Fórum Mulher, abaixo-assinada por diversas mulheres, ONG´s femininas e mistas. A carta foi enviada ao Chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, e ao líder do maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, exigindo um diálogo efectivo e cedências nas divergências entre o poder governamental e o partido da oposição, Renamo.
Mulheres apelam ao diálogo
As mulheres moçambicanas não aceitam um retrocesso no país, agora que, acreditam, se vive na iminência de uma nova guerra, depois dos conflitos ocorridos no início deste mês, dos quais resultaram cinco mortes. Graça Samo, Directora Executiva do Fórum Mulher em Moçambique, explica que consideram "que as duas partes que estão envolvidas, ou seja, o Presidente da República e o líder da RENAMO, têm que encontrar espaços para dialogar sobre as diferenças".
A ONG acredita que as partes "têm que dialogar" e "não podem pegar nas armas, porque são vidas dizimadas, é um retrocesso no desenvolvimento do país e é um retrocesso a todos os conflitos sociais" que o país conhece e que ainda existem.
"A guerra poderá trazer de volta todos os tipos de conflitos que, desde a independência, ou antes da independência, têm procurado ser geridos", conclui.
"Não à guerra", diz Conferência Episcopal
Também a Conferência Episcopal de Moçambique emitiu uma Nota Pastoral endereçada à presidência, assinada por diversos bispos moçambicanos, apelando ao fim da violência e da guerra, lembrando que o Presidente da República e o líder da RENAMO apregoam a necessidade e a importância da paz, mas que esta só será alcançada com tolerância e diálogo pelos dois lados.
Na nota pode-se ler que "o povo moçambicano diz 'Não à guerra', não à guerra'grande' como a dos 16 anos, não à guerra pequena, de um dia ou de uma hora". As mulheres também negam a hipótese de Moçambique voltar a ser uma zona de conflito e Graça Samo relembra que foram elas, nomeadamente nas zonas rurais quem "mais sofreu com estes conflitos armados".
"A nossa experiência, em todos os países em que acontecem conflitos armados, é que as mulheres é que viram objecto de transferência para as trocas entre as guerrilhas e não gostaríamos de ver o nosso país mergulhado", frisa. "Nós já dizemos que vivemos em guerra, guerra económica, guerra de outros conflitos sociais, mas a guerra que resulta do conflito político é mais assustadora e não gostaríamos que isso voltasse a acontecer aqui", diz ainda Graça Samo.
Mais fracos são as principais vítimas
Para estas duas organizações parece evidente que a possibilidade de guerra irá pôr em causa os direitos fundamentais dos cidadãos. Numa situação de conflito armado, Graça Samo relembra que ficam comprometidos os direitos de educação e comunicação, já que a guerra inviabiliza a livre circulação dos cidadãos e o seu acesso às infraestruturas nacionais. Para a directora executiva da Fórum Mulher, a hipótese de guerra no país é extremamente preocupante, porque, na sua prespectiva, os mais fragéis serão as principais vítimas.
"As crianças e os adolescentes são levados para pegar em armas, então os direitos dessas crianças ficam logo comprometidos", considera, adiantando que "as mulheres são levadas como escravas sexuais, como escravas laborais para ir trabalhar para a guerrilha e por aí fora". "Todos nós, nas nossas famílias, prestámos serviço à guerrilha, às forças governamentais, durante o período da guerra", continua a especialista. "Nas nossas famílias, os nossos quintais eram ocupados pelos miltares que queriam água da população, comida da população. As nossas mães cozinharam para alimentar os militares, então... não queremos mais isto!", conclui.
Já na Nota Pastoral da organização religiosa Conferência Episcopal de Moçambique pode ler-se o apelo às forças políticas opositoras para que "restabeleçam o método do diálogo e reafirmem o compromisso que assumiram no Acordo Geral da Paz".