Ondas de Covid-19 na Europa ameaçam vacinação em África
22 de novembro de 2021O aumento exponencial de casos de Covid-19 na Europa está a ameaçar a vacinação em África. Neste momento, apenas cerca de 7% da população do continente se encontra vacinada.
Devido à nova onda de infeções da doença que está a registar números recorde de novos casos semana após semana, é provável que vários países europeus voltem a suspender o envio de vacinas para o continente africano pela iniciativa COVAX.
Segundo Stephan Exo-Kreischer, presidente da organização de desenvolvimento ONE, "o ministro da Saúde Jens Spahn anunciou na quarta-feira que as doses de vacinas destinadas e prometidas aos países mais pobres seriam retidas para vacinas de reforço na Alemanha”.
Não vacinar África é continuar a pandemia
De acordo com o presidente da ONE, uma associação de várias ONG alemãs, esta atitude é um enorme erro e apresenta um "sinal devastador para o mundo sobre a fiabilidade da Alemanha”. A ONE relembra também que Berlim foi um dos governos que adquiriu mais do que as doses de vacinas necessárias para inocular toda a sua população.
À semelhança da Organização Mundial de Saúde (OMS), Stephan Exo-Kreischer critica o facto de o número de pessoas a receber vacinas de reforço nos países ricos continuar a ser bastante superior ao número de pessoas a que chega a primeira dose da vacina em países de baixo rendimento.
De acordo com Exo-Kreischer, não garantir que as pessoas em todo o mundo tenham acesso à vacina seria o mesmo que prolongar a pandemia provocada pela Covid-19. O representante da ONG afirma que "o ministro alemão deve rever imediatamente a sua decisão”.
Poucos casos são resultado de baixa testagem
Apesar da baixa taxa de vacinação, os números do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (CACPD) mostram que África regista uma tendência decrescente nos novos casos da doença. Para o virologista Wolfgang Preiser, isto não significa que o continente possa respirar de alívio.
"Estes números podem ser explicados pelo número muito reduzido de testes”, explica o virologista. Preiser chama a atenção para a situação semelhante na África do Sul, em que não era possível testar todos os pacientes no auge da pandemia, por não haver capacidade.
Preiser, que também é professor na Universidade de Stellenbosch, afirma que na África do Sul "morreram três vezes mais pessoas do que as que foram oficialmente comunicadas”. Os números mais recentes do CACPD dão conta que, desde o início da pandemia, foram registados em África um total de 8,5 milhões de infeções de Covid-19. Dos infetados, 220 mil acabaram por morrer. Ainda assim, a OMS estima que, na realidade, o número de mortos possa ser sete vezes superior.